Para os cristãos, é a representação hiper-realista de Cristo. Para outros, é a imagem de alguém que teve morte violenta.
Corpo do artigo
A ciência ajudou a recriar a imagem do homem do Santo Sudário. Para os cristãos, é a representação hiper-realista do corpo de Cristo. Para quem não segue a fé cristã, é a imagem de um homem, que viveu há dois mil anos e teve uma morte longa e dolorosa.
A exposição The Mystery Man, inaugurada há dias, na Catedral de Salamanca, em Espanha, recolheu todas as informações existentes no Sudário e, com elas, apresenta essa reconstrução. A mostra deverá seguir para Lisboa em 2023, ano em que o Papa Francisco voltará a Portugal para a Jornada Mundial da Juventude.
Será Jesus de Nazaré? Será um homem que nada tem a ver com o cristianismo? A discussão é antiga e começa, desde logo, na dúvida sobre se o Santo Sudário foi ou não o pano que envolveu o corpo de Jesus Cristo, colocado no sepulcro após a sua morte na cruz. Álvaro Blanco, comissário da exposição The Mystery Man, coloca de lado a discussão teológica, académica e científica e fica "apenas" com os dados que o Sudário apresenta.
"Toda a comunidade científica e médica concorda que, neste pano, esteve envolto um homem torturado, com 250 marcas de flagelação em todo o corpo, hematomas e um corte de uma lança que lhe perfurou o pulmão. O que fizemos foi recriar esse homem, com base nos estudos que foram feitos do Sudário, e, depois , cada um que sinta o que quiser sentir", explicou ao JN.
Pesa 75 quilos
O corpo do homem circuncidado, produzido em látex e silicone, pesa 75 quilos. Tem 1,78 metros, uma vasta cabeleira escura e os pés e as mãos possuem vestígios de terra, tal como foi possível perceber pelos exames ao Sudário. Para Álvaro Blanco, não há dúvidas: "Eu não tenho dúvida de que estamos perante o corpo de Jesus Cristo", afirmou.
Antes de o visitante chegar ao espaço onde está o corpo, percorre um conjunto de salas onde é explicada a história do Sudário, da imagem de Cristo e dos estudos feitos ao tecido, onde, há dois mil anos, foi embrulhado um cadáver. A recolha de vestígios e os testes de carbono 14 (para saber a idade aproximada do tecido) começaram a cerca de dois centímetros da borda lateral para garantir que não tinha havido costura ou remendo. Durante seis anos, uma equipa estudou tudo o que já tinha sido escrito sobre o lençol. Depois, Álvaro juntou uma equipa que, durante cerca de quatro meses, recriou a figura do homem.
A posição meio dobrada da imagem "é perfeitamente consistente com a posição de rigor mortis após a crucificação e o corpo tem os peitos proeminentes, o ombro direito meio deslocado e as mãos esticadas. O corpo está feito completamente, inclusive nas costas, o que foi terrível de concretizar por causa da quantidade de feridas", concretizou.
Técnicos do cinema
Uma das preocupações do autor da exposição era que, na construção do corpo, não houvesse arte, mas apenas ciência. "Escolhi uma equipa que já tinha feito trabalhos semelhantes e confiava na técnica. Trabalham para a indústria do cinema, mas não são artistas. Um artista tentará sempre deixar a sua marca pessoal", afirmou Blanco.
José Luís Retana, bispo de Salamanca, foi um dos primeiros a ver o corpo. O prelado ficou comovido com o realismo. "Cada detalhe, o tom da pele, os pelos dos braços. É impressionante, e convido todos para que possam vir contemplar".