Natural de Felgueiras, José Sousa, 76 anos, acredita que as suspeitas de abuso sexual na Igreja são "uma calúnia entre credos, para tentar abalar a fé católica". Apesar de admitir a possibilidade de haver casos verdadeiros, tanto ele, como a mulher, Alice Neto, 75 anos, defendem que "a Igreja tem sido alvo de críticas a mais".
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"Já ouvimos falar de crianças filhas de padres há uns 40 anos", conta José Sousa. "Todas as rosas têm espinhos", comenta. "Quem somos nós para julgar, se as próprias autoridades não conseguem resolver o problema?", questiona, conformado. "Há pessoas muito fortes, que mandam muito, mas há um dia em que são derrubadas."
Alice diz que não se recorda de "ouvir falar tantas coisas sobre padres", como agora. "Dantes, não se podia abrir a boca contra um padre. Hoje, pode-se", acrescenta o marido. Católicos praticantes, entendem que não se ganha a criticar. "Ouvimos e calamos", afirma. "Somos do tempo da agricultura, do tempo da pobreza", comentam os peregrinos, que asseguram que a sua fé não ficou abalada, na sequência destes casos.
"Toda a vida houve e continua a haver [abusos sexuais], na Igreja, a não só", acredita Amaro Silva, 60 anos, que percorreu 250 quilómetros de carro do Marco de Canavezes até Fátima, na companhia da mulher, Emília, 64 anos. "Até há pais que fazem isso aos filhos", acrescenta a peregrina. "Chocados ficamos sempre, porque temos netos, mas isso não acontece apenas na Igreja. A maior parte dos casos sucede na família", comenta o marido. "Claro que isso afeta a vocação. As pessoas começam a perder a crença", admite Amaro.
Não é uma questão de religião
Carlos Pinto, 39 anos, garante que as suspeitas de abusos sexuais na Igreja não abalaram a sua fé. "Esses padres e diáconos são más pessoas. Não é uma questão de religião", defende o emigrante em França, que aproveitou as férias em Portugal para se deslocar a Fátima, e cumprir algumas promessas, deslocando-se de joelhos na via penitencial. "Infelizmente, isso está a acontecer em todos os países, e já houve vários escândalos."
Apesar disso, o emigrante português considera que estes casos não contribuem para afastar as pessoas da Igreja, precisamente porque são cometidas por pessoas, e não pela instituição. "O próprio Papa Francisco está muito empenhado nesta tarefa", afirmou, em alusão ao facto de o Santo Padre estar determinado em pôr fim a estas práticas. "Essas pessoas têm de ir a tribunal e ser castigados, como qualquer cidadão."
"Tem de haver tolerância zero com estes casos", sublinha Celso Batista, 55 anos, que percorreu a pé cerca de 160 quilómetros entre Almada e Fátima, com um pequeno grupo de amigos. "O mal está em todo o lado. Há bons padres e maus padres. O mal entra-nos por baixo da porta", observa o pintor da construção civil. "Mas também há um grande aproveitamento político da situação, por parte de fações de esquerda, que são ateus", denuncia. "Nem tudo o que se diz é verdade." Contudo, diz que a constituição da Comissão Independente só peca por tardia.
Rui Monteiro, 30 anos, juntou-se ao grupo de Carlos há dois dias. Enfermeiro, fez o percurso a pé desde Sintra, na expectativa de poder ajudar alguns peregrinos. Natural do Porto, lamenta que existam casos de abuso sexual "em todo o lado", "muitos dos quais dentro da Igreja Católica". "As pessoas acabam por abafar, o que é anti natura", considera. Satisfeito com a forma como o Papa está a lidar com a situação, defende que as pessoas que cometeram esses crimes têm de ser julgadas. "Deviam ter mais consciência porque estão a servir Deus, e fizeram voto de castidade. Fazer este tipo de coisas é horrível."