Família que vive na Maia tem cinco filhos em diferentes níveis de ensino. Todos tiveram, segunda-feira, o primeiro dia de aulas à distância em Portugal, sem caos, sem stress. O segredo: organização.
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Impera o silêncio na casa da família Barbosa. Cada um dos cinco irmãos está de olhos no tablet. Ana, sete anos, a mais nova, é quem mais fala em voz alta. "O que é um pomar, pai?".
A família chegou no verão da Colômbia, onde vivia, e Ana ainda se confunde com algumas palavras em português. Foi viver para o outro lado do Atlântico, era ainda bebé. "Bom dia, professora", repete depois de um intervalo. Está na 2.ª classe e teve esta segunda-feira o primeiro dia de aulas à distância em Portugal, uma realidade que bem conhecia na América Latina. "Eles estão muito habituados porque lá, desde março, que estudavam assim, num colégio que era muito tecnológico. Muitos dos manuais já não eram físicos e liam sempre três livros ao mesmo tempo, todos digitais", conta a mãe Carla Abigail, professora de música.
A grande estratégia da família passa pela organização. Na última noite, uma das missões foi garantir que todos os tablets estavam carregados e que cada um tinha preparado os seus livros - alguns ficaram no quarto, outros foram deixados em cima da mesa de jantar. Cada um preparou o seu espaço de trabalho.
"Puxamos muito para que eles sejam independentes, dizemos-lhes que têm de levantar a mão e perguntar à professora, como se nós não estivéssemos por perto", conta o pai Daniel Barbosa, diretor de uma multinacional, também a trabalhar a partir de casa.
Os horários dos cinco alunos, que estudam no Agrupamento de Escolas da Maia, estão colados numa folha A4 no frigorífico. Além da pequena Ana, também Ismael, que está no 6.º ano, Simão e Ester que são da mesma turma do 7.º, e Daniela que frequenta o 11.º ano, voltaram a ter aulas.
Dificilmente se vão encontrar todos na cozinha para almoçar ao mesmo tempo, nada que preocupe a mãe. "É intenso, mas somos muito organizados, muito metódicos. Estivemos a organizar tudo de véspera, em família. Creio que algumas pessoas estão um pouco mais perdidas porque não usam tanto os computadores e os tablets".
Antes de viver na Colômbia, o casal português viveu no México, onde adotou duas crianças. "Chegamos lá com três filhos e saímos com cinco", conta Carla ao relembrar que assim que souberam que havia uma outra criança no sistema correram para não separar dois irmãos.
"A partir de três filhos é que complica, passo o tempo a contá-los", diz Daniel em tom de brincadeira, acrescentando que o ensino à distância tem algumas vantagens logísticas: deixou de andar na correria das constantes viagens à escola para levar um filho e trazer outro. "Já não temos de andar a entrar e a sair, o que é stressante. Temos controlo parental nos tablets e isso permite-nos saber o que estão a fazer, onde estão, até para eles não estarem muito tempo a jogar".
Para ocupar quem está livre, enquanto os irmãos estão em aula, organizam algumas tarefas domésticas, o lema é arranjar sempre solução. "A questão é, podemos mudar isto? Não. Temos é de reagir e tirar o melhor proveito de tudo, somos uma família mais de construir, de procurar soluções", aponta Daniel ao considerar que a medida do Governo se poderá estender por mais meses.
Nas últimas duas semanas em que a escola esteve suspensa pediram aos filhos para rever a matéria dada. "O ensino à distância até pode ajudar a terem melhores notas porque os alunos não interrompem tanto os professores, já que os microfones estão desligados. Noto que os meninos quase não falam, na Colômbia participavam mais, e para um professor até pode ser mais fácil dar a matéria online", diz Carla, que momentos depois segura a mão de Ana enquanto a filha ouve a professora de auscultadores. "A Ana diz-me 'se estiveres aqui perto, vou ter melhores notas'".
Quando não tem aulas, Daniela, a mais velha, é quem ajuda os restantes. No início foi a que mais ficou ansiosa, porque as notas já contam para uma candidatura ao ensino superior, mas agora, assegura o pai, está mais tranquila.
"Há famílias que são caóticas com um filho, temos é de ser pessoas organizadas e isso passa também para eles, para que o ensino online resulte, é muito importante", considera a mãe.