As Comissões Diocesanas de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis receberam, até ao momento, cerca de 30 participações de abuso sexual por parte de membros ligados à Igreja. Os dados foram revelados durante o encontro nacional destes organismos, realizado este sábado em Fátima, onde ficou expressa a necessidade de constituir uma bolsa de psicólogos e de psiquiatras à qual as comissões possam recorrer para dar apoio às vítimas.
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Na abertura dos trabalhos, José Souto Moura, antigo procurador-geral da República (PGR), que preside à equipa de Coordenação Nacional das Comissões Diocesanas e Castrense, tinha relevado a existência de 26 denúncias, mas no decorrer do encontro houve "conhecimento de novos casos", com o total a rondar os 30, alguns comunicados à Justiça.
"Um só caso é uma monstruosidade" e deve haver "tolerância zero" em relação a estas situações, disse o antigo PGR, citado pela agência Lusa. Este encontro - que assinalou o primeiro aniversário da equipa liderada por Souto Moura - teve lugar a uma semana da apresentação do relatório sobre a situação dos abusos sexuais na Igreja em Portugal elaborado pela comissão independente, cuja coordenação está a cargo do pedopsiquiatra Pedro Strecht.
A partir de agora, frisa Souto Mouro, "quem fica [no terreno, a ouvir as potenciais vítimas] são as comissões diocesanas", as quais devem "ser um motor de confiança da Igreja e motivo de credibilidade" para os queixosos. "Isso responsabiliza-nos a todos de uma maneira muito especial", reforça o antigo PGR que, no final do encontro, disse existir da parte destes organismos "vontade de fazer" e de ajudar as vítimas.
Há, no entanto, uma dificuldade comum à generalidade das 21 comissões diocesanas, que se prende com a "falta de resposta" para acompanhamento psicológico e psiquiátrico das vítimas. Souto Moura revelou ao JN que está prevista a criação de "uma bolsa de técnicos voluntários aos quais as comissões possam recorrer".
Na parte aberta do encontro, o vice-reitor da Universidade Católica, padre José Pereira de Almeida, falou do "clericalismo como um problema da Igreja de hoje que compete sanear" e a psicóloga Rute Agulhas abordou "boas práticas" no acompanhamento a vítimas de abusos.
Revitimização
A psicóloga Rute Agulhas alertou para o facto de a Justiça nem sempre ser "amiga" das vítimas de abuso, pois estas "são ouvidas vezes sem conta", o que pode contribuir para uma "revitimização".
O relatório da Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais de Crianças na Igreja em Portugal será apresentado no próximo dia 13. O estudo foi pedido pela Conferência Episcopal.