Dezenas de voos são cancelados, por dia, no aeroporto de Lisboa, deixando milhares de passageiros em desespero, mas as companhias aéreas não encaram Beja ou o Porto como alternativa. Com mais 500% de passageiros em Portugal e mais 1000% na Europa até abril, as companhias que despediram pessoal durante a pandemia não esperavam a recuperação tão rápida que obrigou a ANA - Aeroportos de Portugal a reforçar meios, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras a reforçar pessoal e a NAV - Navegação Aérea de Portugal a negociar espaço aéreo com os militares.
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A International Air Transport Association (IATA) previa a recuperação do tráfego aéreo apenas em 2024, mas agora estima que sejam atingidos 83% dos passageiros de 2019 ainda este ano. "Ninguém previu isto", dizia o ministro das Infraestruturas, esta semana, no Parlamento, justificando a vaga de cancelamentos da TAP na Portela no último mês. Além disso, apontou, "vivemos um problema conjuntural que afeta toda a Europa e todo o mundo".
Mais de 15 mil voos serão cancelados na Europa este verão, segundo consultoras especializadas: dois mil na Lufthansa, 10300 da British Airways, 10 a 20 voos por dia na KLM, entre outras. Na TAP, contabilizamos uma média de 20 voos cancelados por dia em Lisboa.
A falta de pessoal em terra, no "handling" ou na segurança dos aeroportos, no ar, com falta de tripulantes e até pilotos, dispensados na pandemia, a que se somam greves de controladores de tráfego aéreo e de outros trabalhadores por toda a Europa, espalharam o caos em "dominó", afetando também Portugal.
Planos de contingência
"Temos tido, desde há semanas, situações difíceis no aeroporto de Lisboa, principalmente relacionadas com o controlo de fronteiras e o cancelamento de voos", admitiu fonte da ANA.
O SEF ativou, em junho, um plano de contingência para o verão, com um "reforço substancial de recursos humanos afetos aos aeroportos [55 inspetores extra, dos quais 25 colocados em Lisboa, e 176 agentes da PSP com curso de controlo de fronteiras], soluções tecnológicas de controlo antecipado de passageiros [SEF mobile]" e o alargamento de "portas tecnológicas de controle de passageiros".
Na Portela, a ANA instalou novas saídas rápidas na pista, novas áreas de embarque ou pré-embarque e reforçou equipas de apoio ao passageiro, de 30 para 50 pessoas.
No entanto, apesar das queixas relativas à saturação da Portela, a concessionária "não registou qualquer pedido" por parte das companhias aéreas para aterrar em aeroportos menos ocupados, como o Porto (onde poucos cancelamentos tem havido) ou Beja. Nem no caso da aterragem de emergência do voo que se destinava a Cancun foi feito esse desvio.
Falta de interesse
"As slots [janelas horárias para aterrar ou descolar] são atribuídas por uma comissão nacional, num concurso internacional muito escrutinado. Não se alteram slots com essa facilidade", explicou fonte do setor, ao JN. Além disso, acrescentou a mesma fonte, "os passageiros que compraram bilhete para Lisboa não querem ir aterrar em Beja".
"Nem a Ryanair, que é conhecida por operar em aeroportos secundários, equaciona operar em Beja", disse o ministro Pedro Nuno Santos no Parlamento. "Beja está disponível para lá aterrar quem quiser, simplesmente as companhias não querem", rematou.