Transformar biorresíduos em adubo natural é uma prática cada vez mais comum nos grandes centros urbanos, graças a ações municipais e de empresas de resíduos. As cidades portuguesas estão cada vez mais adeptas da compostagem. Se todos optássemos por esta prática, diminuiríamos o lixo que produzimos em um terço..
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Sendo o ambiente um dos principais desafios do século XXI, Portugal está a criar uma rede de recolha que já ensinou milhares de famílias e vai às escolas. Até final de 2023, todos os estados membros da União Europeia têm de implementar um sistema de separação e reciclagem de biorresíduos. No entanto, existem cidades que há muito encontraram estratégias para diminuir a quantidade produzida.
Há ações de formação que incluem a oferta de compostores às famílias que têm horta ou jardim, mas as iniciativas que colocam compostores comunitários em bairros também se estão a multiplicar e destinam-se a residentes em apartamentos que não têm onde fazer o composto.
Ao longo de 2021, o Ministério do Ambiente e da Ação Climática vai financiar 228 câmaras municipais, cada uma com 5000 euros, para desenvolverem sistemas de recolha e separação de biorresíduos. A medida, ao abrigo do Fundo Ambiental, tem um orçamento de 1,4 milhões de euros. Uma das autarquias contempladas é a de Guimarães, que está a desenhar um plano de ação mas já tem uma estratégia no terreno com ações de formação de alunos e oferta de compostores às escolas.
"Devemos pôr duas porções de castanho para uma de verde", ensinava Susana Falcão, do Laboratório da Paisagem de Guimarães, perante uma turma do 8.ºano da EB 2, 3 de Caldas das Taipas. A aula realizada este mês insere-se no projeto formativo escolar para a compostagem. Antes da parte prática, são explicadas as vantagens do processo, que não só reduz o volume de lixo que vai para queimar ou para o aterro, como também evita a necessidade de compra de adubos ou fertilizantes para a horta, jardim, vasos e floreiras.
Estes materiais orgânicos vão ser transformados num composto muito semelhante ao da terra, extremamente rico em nutrientes
Depois de aprendida a parte teórica, cada aluno da EB 2, 3 das Taipas passou à parte prática e fez um compostor com recurso a uma garrafa de plástico. Dentro de cada garrafa aberta na parte superior foram colocados resíduos para transformar em composto. Os estudantes trouxeram de casa restos de alimentos e tiraram as dúvidas no manual de compostagem doméstica que o Laboratório da Paisagem disponibiliza. Cada aluno juntou os verdes e os castanhos até formar o princípio do composto que depois vai servir para adubar os jardins da escola.
"Estes materiais orgânicos vão ser transformados num composto muito semelhante ao da terra, extremamente rico em nutrientes, que depois pode ser colocado como fertilizante ou adubo, e isso vai trazer melhoras significativas ao solo", explicava a técnica do Laboratório da Paisagem. A escola das Taipas até já tinha um compostor para ensinar os alunos a transformar os biorresíduos em fertilizante. Agora ficou com dois. No fim de contas, a melhor forma de aperfeiçoar a aprendizagem é com a prática, afirma João Monte, diretor da escola: "A pedagogia que exercemos não é tão eficaz quanto a ação".
Envolver os cidadãos
Foi a pensar nesta premissa que a entidade gestora de resíduos do Grande Porto, a Lipor, lançou o projeto Terra à Terra em 2007. Através de formações e da oferta de compostores, o projeto ensina famílias, instituições e escolas a fazerem compostagem caseira. Até hoje, já foram distribuídos ou colocados 15818 compostores caseiros, dos quais 67 em espaços comunitários.
Os mais de 1200 workshops organizados pela Lipor alusivos ao tema da compostagem doméstica e comunitária contaram com a participação de 16 831 pessoas ao longo dos 14 anos de implementação do projeto. Para o futuro, o objetivo da Lipor é "continuar a apostar no crescimento destes projetos e no envolvimento do cidadão", adianta fonte da empresa que opera nos municípios do Porto, Gondomar, Valongo, Matosinhos, Maia, Vila do Conde, Póvoa de Varzim e Espinho.
Quem também já apostou nas ações de formação e colocação de compostores comunitários foi a Valorsul, que trata os resíduos da Grande Lisboa e região Oeste. "Instalámos, em parceria com os municípios, cinco compostores comunitários na Área Metropolitana de Lisboa (AML)", diz a empresa.
Em 2018 e 2019, foi oferecido um compostor e a respetiva formação a cerca de 2000 famílias residentes nos municípios abrangidos pela Valorsul. Na edição atual, que abrange os anos de 2020 e 2021, a meta é mais ambiciosa e prevê chegar aos 2500 compostores oferecidos. "O enfoque é maior na AML, que também revelou ter procura e condições para a prática da compostagem doméstica", sublinha a Valorsul. Para já, na atual edição, foi dada formação a cerca de 500 famílias, "a maioria por videoconferência", acrescenta.
Poremos em prática a economia circular. Prosseguir este objetivo é um desafio que só será vencido se for partilhado por todos
Em outubro passado, a Câmara de Sintra também iniciou um projeto-piloto de recolha de resíduos alimentares porta a porta em cerca de 5000 habitações. Este ano, o objetivo é alargar o projeto a 25 mil casas, estabelecimentos de restauração e escolas. "Poremos em prática a economia circular. Prosseguir este objetivo é um desafio que só será vencido se for partilhado por todos", realça Basílio Horta, presidente da Autarquia.
Em 2022, o novo sistema de recolha de Sintra vai abranger mais 70 mil famílias, envolvendo a totalidade da área urbana do concelho, cumprindo em 2023 a obrigatoriedade da recolha seletiva de biorresíduos, com mais 90 mil agregados familiares. Os biorresíduos recolhidos vão ser transformados em composto orgânico ou energia, de forma a aumentar a poupança pública na gestão dos resíduos urbano