O INEM não consegue comprar veículos de emergência para necessidades específicas como, por exemplo, ambulâncias com suspensão especial para evitar impacto nas vítimas de trauma. A denúncia foi feita esta quinta-feira pela Comissão de Trabalhadores do INEM. A reunião entre Ministério e técnicos de emergência já começou.
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Na Comissão de Saúde estão esta quinta-feira a decorrer cinco audições, a pedido do PS e do Chega, sobre a situação atual do INEM.
Ao mesmo tempo decorre no Ministério da Saúde uma reunião com o Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (STEPH), com a presença da ministra da Saúde e da secretária de Estado da Gestão da Saúde.
O foco da negociação é a valorização salarial e das carreiras deste que é o maior grupo de profissionais do INEM. À entrada, Rui Lázaro, presidente do STEPH falou num dia histórico, mas deixou avisos. Se as proposta da tutela for "muito abaixo da expectativa e não houver margem de aproximação" , voltam as ações de luta.
No Parlamento, a primeira audição foi com a Comissão de Trabalhadores (CT) do INEM.
Aos deputados, o presidente da CT denunciou o desinvestimento no instituto nos últimos anos, falou no desgaste dos técnicos que fazem milhares de horas extra para assegurar a resposta e concordou que o desvio de receitas - na ordem dos 135 milhões de euros - dos orçamentos do INEM para outras entidades do Ministério da Saúde nos anos da pandemia impediu a renovação da frota, a valorização dos profissionais e e a inovação.
Relativamente à renovação da frota, Rui Gonçalves deixou uma crítica ao modelo de aquisição dos meios, através da central de compras do Estado (ESPAP). Segundo o responsável, o INEM está obrigado a comprar os veículos em conjunto, sendo as células posteriormente adaptadas à emergência pré-hospitalar. Mas na compra inicial, da chamada carroçaria, não são satisfeitas necessidades específicas e é sempre o preço mais baixo que determina o concorrente vencedor.
"Por exemplo, se quisermos uma ambulância de emergência médica com determinada suspensão para evitar impacto nas vítimas de trauma não conseguimos", explicou o presidente da CT do INEM, adiantando que estes pormenores fazem a diferença. "Se calhar convém rever a forma como compramos viaturas através da central de compras do Estado", sugeriu.
Acabar com transporte entre hospitais
Na audição, o presidente da CT também defendeu que a refundação do instituto deve passar por deixar de fazer transporte secundário, ou seja as transferências de utentes entre hospitais, porque este serviço retira meios ao socorro pré-hospitalar.
Rui Gonçalves afirmou que os hospitais pedem este serviço ao INEM para não pagarem a empresas privadas ou bombeiros.
"Não sabemos ao certo a que se refere a refundação do INEM de que tanto se tem falado", disse o responsável, defendendo que o transporte secundário faz com que os meios fiquem ocupados com situações que não são urgentes, "enquanto vão entrando chamadas urgentes que precisam de meios".
Ainda a propósito da refundação do INEM e das funções que o instituto deve desempenhar, Rui Gonçalves defendeu que a formação dos técnicos, em especial do Centro de Orientação de Doentes Urgentes, deve manter-se na alçada do INEM.
Na semana passada, a ministra da Saúde admitiu que a área da formação assegurada pelo INEM pode passar para a academia.
Escalonar tempos de resposta
Respondendo a questões sobre o funcionamento e a triagem feita no Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU), a médica Margarida Carvalho, que também integra a CT do INEM, referiu que nenhum sistema de triagem é perfeito e o que existe atualmente visa determinar o meio de emergência mais adequado para cada caso.
A médica admitiu que algumas chamadas são de doentes urgentes (e não emergentes) que acabam por ter a prioridade 3 e aqui há "potencial de otimizar".
Considerando que "os recursos são finitos" e nem todos os casos necessitam de resposta ao mesmo tempo - "uns precisam numa hora, outros em meia hora", exemplificou - Margarida Carvalho defendeu uma triagem que permita uma resposta em tempos diferentes.
Apesar das várias dificuldades, nomeadamente em termos de recursos humanos, no final da audição, Rui Gonçalves afirmou que a população pode confiar na capacidade de resposta e nos profissionais do INEM e pediu aos partidos que deixem "sossegar os ânimos" e permitam que o INEM tenha estabilidade suficiente para ultrapassar esta fase.