Os portugueses adotaram comportamentos de prudência relativamente ao dinheiro durante o estado de emergência.
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Aproveitaram o confinamento para poupar numas coisas, sendo obrigados a gastar noutras para estarem em teletrabalho ou terem os filhos na telescola, mas com moderação. Os especialistas acreditam que pode haver euforia consumista no final do ano, se a pandemia desanuviar [ler ao lado].
Apesar da perda de rendimentos generalizada, devido à diminuição de atividade das empresas, no final de abril, os portugueses tinham um total de 66 670 milhões de euros em contas à ordem nos bancos, um aumento de 2,5% face ao primeiro mês da pandemia, em março. Este valor, medido mensalmente pelo Banco de Portugal, tem vindo a subir, historicamente, registando-se quebras periódicas apenas em agosto, com maiores despesas em férias. Durante o confinamento, a população acabou por poupar.
cautela essencial
Essa poupança ficou parada nas contas, para qualquer emergência, até porque, em abril, foram colocados menos 140 milhões de euros em novas contas de depósitos a prazo. Foi uma questão de liquidez e de menos gastos no dia a dia.
Segundo António Salvador, diretor-geral da consultora GfK em Portugal, "durante a primeira semana [de março], estava tudo calmo, não acontecia nada, mas na primeira semana de confinamento, foi o pânico total". Nessa altura, disparou o consumo de notícias, os sites dos supermercados entraram em rutura e os portugueses açambarcaram. A consultora revela que 83% dos consumidores mudaram o comportamento por causa da covid-19 e o novo normal - focado no essencial, na casa e na família - pode manter-se.
consumo a pronto
No primeiro mês da pandemia, os níveis de endividamento não subiram face aos valores registados desde outubro de 2016, com um total global de pouco mais de 139 mil milhões de euros em créditos para todas as finalidades.
Sem recurso a crédito - o crédito ao consumo caiu 64% em abril -, os portugueses pagaram a pronto os televisores, quando começou a telescola, os computadores, impressoras, monitores, ratos e webcams quando começou o teletrabalho e as máquinas de café e purificadores de ar durante a quarentena. Nas semanas mais recentes, o lazer ganhou terreno. Segundo a Fnac, as consolas e respetivos acessórios e jogos estiveram entre os mais vendidos, com a procura online a disparar a três dígitos.
"Retoma pode trazer euforia"
O consumo mudou durante o confinamento. Acha que vai voltar ao que era? Os padrões de consumo mudaram, mas a natureza humana não mudou e estou convencido que os hábitos anteriores à pandemia serão retomados. O que se consumiu mais foi de natureza alimentar, ligado à saúde ou tecnologia - foi aquilo de que as pessoas precisavam. Com o regresso ao normal, aquilo de que precisam também regressa ao normal.
O que é que não mudará? O enorme crescimento do comércio eletrónico não vai regredir por completo. As pessoas perceberam que é uma alternativa válida e vão continuar a usá-la.
E a perda de rendimentos, como afetará o consumo? Estou convencido de que a retoma dos rendimentos será rápida, assim regresse o turismo, que alimenta muitos postos de trabalho. Esta crise não é económica, é sanitária, e vêm aí muitos milhões da União Europeia que vão permitir à economia recuperar depressa.
A retoma faz aumentar o consumo desenfreado? Este verão já vai ser bom, vai haver algum turismo e, no último trimestre, com o fim do lay-off, as pessoas vão recuperar rendimentos. Acredito que poderão "vingar-se" no consumo por altura do Natal, com alguma euforia para aproveitar o que amealharam e não puderam gastar durante estes meses.
Pormenores
Informáticos em alta - As vendas de webcams aumentaram 12 300% em abril e maio no portal Kuanto Kusta (KK). Seguiram-se impressoras (820%) e portáteis (315%).
Exercício - As vendas de passadeiras elétricas registaram mais 2650% no KK nos dois meses passados.
Jogamos juntos - Os jogos e puzzles tiveram um aumento de vendas de 6140%, dez vezes mais do que as consolas (+600%), no Kuanto Kusta.
Um chef em casa - As vendas de robots de cozinha aumentaram 490%, de máquinas de café 350%.
Mãos à obra - As vendas de papel de parede cresceram 1700% no KK e as de cadeiras 1200%.