
Eduardo Costa/Lusa
O Presidente da República disse, esta segunda-feira, que o desconfinamento não terá agravado a pandemia de covid-19 em Portugal.
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"A primeira conclusão provisória que decorreu foi a de que não há sinais que as duas primeiras fases de desconfinamento tenham provocado, em termos do país, um agravamento da expressão do surto epidémico", disse Marcelo Rebelo de Sousa, esta segunda-feira, em conferência de imprensa no fim de uma reunião no Infarmed. Pelo contrário, continuou, "a haver sinais, é no sentido de uma estabilização na descida, lenta".
O chefe de Estado acrescentou que Portugal está em linha com outras "experiências europeias de desconfinamento", em que o "R" anda à volta de 1, havendo países em que o valor esteja "bem acima, como a Suécia". Os esforços visaram achatar a curva, prolongando o surto, "mas fazendo-a descer". Confrontaldo com uma eventual dualidade de critérios para a reabertura de setores, Marcelo lembrou que "Portugal ainda hoje tem um regime de confinamento dos mais elevados da Europa", com um conjunto de normas apenas ultrapassadas "por dois ou três países europeus".
Peso da construção civil e do trabalho temporário nos contágios em Lisboa
Quanto à evolução do surto em Lisboa e Vale do Tejo - que, à semelhança do que aconteceu nos dias anteriores, soma hoje 78% dos novos casos de infeção - Marcelo diz que "houve uma análise muito cuidadosa daquilo que se passa". A região "teve sempre uma tendência relativamente estável de casos, nunca subiu muito, ao contrário da região Norte e Centro, e também não desceu, não direi a pique, mas de forma acentuada, como aconteceu nessas regiões". Uma hipótese, adiantou, é "ter havido um atraso na expressão mais intensa do surto" na região de Lisboa e Vale do Tejo, relativamente às outras regiões. "Esta subida a que assistimos é retardada no tempo".
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Além disso, Marcelo defende que há "uma perceção pela opinião publica de um agravamento superior ao agravamento efetivo". Perceção "que até é injusta para outras regiões", uma vez que, nos primeiros 10 municípios com maior incidência de surto, não está nenhum município de Lisboa e Vale do Tejo. "Já esquecemos o que houve no Norte e Centro de forma muito acentuada em fases anteriores".
Marcelo Rebelo de Sousa disse ainda que "vale a pena investigar" o peso da construção civil e do trabalho temporário no grande crescimento do número de casos em Lisboa e Vale do Tejo. "Se for isso, e se houver a preocupação das empresas de testarem o maior numero de trabalhadores dessas duas áreas, então isso talvez explique - vale a pena investigar - talvez explique o que aconteceu nas últimas semanas em Lisboa e Vale do Tejo, com uma incidência particularmente forte no trabalho temporário e na construção civil". Setores que nunca pararam, "mesmo em período de confinamento", lembrou.
"Por isso não se pode dizer que haja aqui um efeito do desconfinamento. Porque estas duas áreas nunca pararam", acrescentou. "Estas são as pistas de reflexão que vão ser aprofundadas nas próximas dias e semanas", concluiu Marcelo, revelando que a próxima reunião com os especialistas acontecerá a 24 de junho.
