A coligação PSD-CDS venceu as eleições, mas a possibilidade do próximo Governo vir a ser formado pelos partidos da esquerda parece estar a ganhar fôlego. Se acontecer, será uma novidade em Portugal. Mas na Europa há vários exemplos de governos liderados por partidos que não ganharam as eleições.
Corpo do artigo
O exemplo mais recente vem da Dinamarca. Nas últimas eleições legislativas, a 18 de junho, o Partido Social-Democrata venceu com 26,3% dos votos, uma maioria relativa que não resultou na recondução da primeira-ministra Helle Thorning-Schmidt.
Os partidos da direita (Liberal, Popular, Conservador e Democrata-Cristão e Aliança Liberal) juntaram-se e a rainha convidou o líder do Partido Liberal, que tinha conseguido 19% dos votos, para primeiro-ministro. No final, as negociações com os outros partidos da direita fracassaram e Lars Lokke Rasmussen lidera um Executivo formado apenas pelo seu partido e com maioria relativa.
Há dois anos, o Luxemburgo viveu situação idêntica, quando as legislativas foram antecipadas. O então primeiro-ministro, Jean-Claude Juncker (atual presidente da Comissão Europeia), estava em funções há 19 anos e voltou a vencer as eleições com 33,6 % dos votos. No entanto, não conseguiu formar Governo.
O líder do partido que ficou em terceiro lugar, Xavier Bettel, é o atual primeiro-ministro luxemburguês. Nas legislativas conquistou apenas 18,3% dos votos, mas coligou-se com os socialistas do LSAP que ficaram em segundo lugar com 20,3% dos votos e com os Verdes que ficaram em quarto lugar com 10,1% dos votos.
Também a Bélgica tem um primeiro-ministro, Charles Michel, cujo partido Movimento Reformador foi o quinto mais votado (9,64%) e terceiro em número de deputados (20 dos 150 assentos) nas eleições de maio de 2014. Nessas legislativas, os mais votados foram os nacionalistas flamengos do N-VA, com 20,4% dos votos. A tentativa deste partido juntar a direita francófona e flamenga não resultou e o rei convidou Charles Michel a procurar uma aliança.
O atual governo belga é um pote com membros do N-VA, dos Democratas-Cristãos Flamengos, dos Liberais Democratas Flamengos e do Movimento Reformador. Como a Constituição exige um equilíbrio entre flamengos e francófonos, o partido de Charles Michel, única força francófona do Governo, ficou com metade das pastas ministeriais.
Na Letónia, apesar de os socialistas do Harmonia terem vencido as legislativas de 4 de outubro de 2014 (com 23% dos votos e 24 deputados eleitos), quem formou governo foi a líder dos conservadores do Unidade, que ficou em segundo lugar, com 21,9% e 23 deputados.
Laimdota Straujuma, a primeira mulher a assumir a chefia de um governo na Letónia, lidera atualmente uma coligação entre o Unidade, a União dos Verdes e Agricultores e os nacionalistas da Aliança Nacional, o terceiro e quarto partidos mais votados respetivamente.