Constantino Sakellarides: há médicos que não conhecem plano de contingência dos hospitais
Constantino Sakellarides, antigo diretor-geral de Saúde, revelou que recebe telefonemas de médicos que desconhecem os planos de contingência dos hospitais em que trabalham. A realidade é consequência de uma falta de comunicação que já vem de trás, defende.
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"Há profissionais a trabalhar nos hospitais que não sabem que existem planos de contingência", afirmou esta terça-feira Constantino Sakellarides, na conferência "Da Pandemia à Inclusão", organizada pela Associação de Aposentados, Pensionistas e Reformados (APRe!) no ISCTE, em Lisboa. Para o médico e professor, isto demonstra que, por vezes, "não há comunicação" mesmo entre quem está na linha da frente do combate à pandemia.
Sakellarides acrescentou que, quando estava à frente da Direção-Geral da Saúde (DGS), a primeira pergunta que fazia quando lhe relatavam dificuldades era se existia plano de contingência. Aplicado aos lares na atualidade - um dos temas abordados na conferência -, esses documentos devem, em primeiro lugar, procurar evitar que o vírus entre e, em segundo, estabelecer previamente medidas para o caso de ele conseguir entrar.
Na opinião de Sakellarides, o "principal desafio" que a pandemia coloca atualmente não é a sua resolução definitiva, mas sim a tentativa de "ganhar tempo até à vacina". Para isso, é necessário encontrar um "equilíbrio" entre a proteção das vidas humanas e a manutenção da qualidade de vida.
O antigo diretor da DGS mostrou-se preocupado com o que diz ser uma "grande tendência" para a "polarização" da pandemia na Europa. Na sua opinião, esse fenómeno tem-se observado sobretudo na divisão entre jovens e idosos e, também, na dicotomia "igualmente perigosa" entre saúde pública e liberdade. Esta última é, em parte, consequência de uma certa "fadiga pandémica" que é preciso analisar e compreender, considerou.
Sobrinho Simões quer fim do sistema "hospitalocêntrico"
Sobrinho Simões, o outro orador do painel, considerou que, no que toca à assistência aos idosos, uma das principais consequências da pandemia foi ter evidenciado a necessidade de reforçar o acompanhamento domiciliário e os apoios à periferia. Esta mudança de paradigma deve ocorrer não apenas a nível de utentes de lares mas, também, no caso de idosos que ainda vivam nas suas residências mas já estejam física ou mentalmente diminuídos.
"Não posso trazer as pessoas, semana a semana, de Mirandela para o Hospital de São João ou de Santo António", referiu o médico e académico. Sobrinho Simões, que considerou "monstruoso" que as mortes nos lares devido às covid-19 continuem, disse ser necessário que o país se afaste de um sistema "hospitalocêntrico" e dê mais poder "aos decisores locais".
Da parte da tarde, o presidente da república, Marcelo Rebelo de Sousa, fará uma pequena intervenção na conferência.