A construção civil é o setor mais fatídico, a avaliar pelo número de acidentes de trabalho mortais, apesar da redução generalizada deste tipo de sinistros. O sindicato pede medidas para contrariar o trabalho clandestino e os acidentes, como a importação e a qualificação de mão de obra, quando há reformados de outras profissões a morrer nas obras, incluindo um ex-motorista de 70 anos que caiu de um andaime.
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É na construção civil que continua a haver mais acidentes graves e mortais, segundo os dados mais recentes da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), que inclui os primeiros sete meses do ano, na estatística atualizada a 16 de agosto.
A ACT contabiliza 62 acidentes mortais até julho, sendo quase metade na construção: 30. Nos totais de 2019, 2020 e 2021, já liderou a tabela numa tendência crescente, com 38, 41 e 49 acidentes de trabalho fatais, respetivamente.
Olhando para o total de acidentes mortais, na soma dos vários setores de atividade, verifica-se uma descida: até julho registaram-se 62 mortes, que comparam com 95 em 2021, 77 em 2020 e 78 em 2019 em período homólogo. No total do ano, 2021 fechou com 135 mortes em acidentes de trabalho, 136 em 2020 e 124 acidentes mortais em 2019.
Numa análise por grupos profissionais, a ACT refere a morte de 18 operários, artífices e trabalhadores similares, o que representa até julho muito menos de metade do que nos anos anteriores. Em 2021 foram 49.
No quadro mensal, o menor número é de junho, com três acidentes mortais (em junho de 2021 foram 14); e o mais elevado foi maio, com 12 (contra nove em 2021).
Reuniões com Governo
Nos acidentes graves, a descida é muito significativa: 131 em sete meses (43 dos quais no setor da construção), quando no total do ano passado ascenderam a 533.
Questionado pelo JN sobre se a crise, a falta de materiais ou de mão de obra justificam uma redução dos acidentes, o presidente do Sindicato da Construção de Portugal, Albano Ribeiro, contrapôs a previsão de que as mortes venham a aumentar se não forem tomadas medidas urgentes para travar o trabalho clandestino e para ter mão de obra qualificada. A propósito, diz que o setor precisa de "90 mil trabalhadores" para obras públicas e privadas.
"Temos na fileira da construção civil 450 mil trabalhadores. Mas já tivemos 900 mil", diz o presidente do sindicato, notando que a mão de obra não chega porque recebe três ou quatro vezes mais no estrangeiro.
O sindicato pediu audiências ao ministro das Infraestruturas e à ministra do Trabalho, também para discutir a fiscalização, que considera ineficaz. Albano Ribeiro nota que os inspetores concentram-se nas grandes obras, mas que não é nestas que ocorrem "80% dos acidentes de trabalho". Defende que a ACT reforce a sua ação nas obras onde se promove "o trabalho precário e clandestino" e dominam "redes mafiosas".
Outros setores
Após a construção, seguem-se no balanço dos acidentes mortais até julho os trabalhadores da agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca com um total de oito mortes. Depois, com sete mortes, estão os setores do comércio por grosso e a retalho, reparação de automóveis e motociclos.
Profissões
A seguir a operários, artífices e trabalhadores similares, com 18 mortes, estão trabalhadores não qualificados, com 12. Mas estão em averiguação outros 19 por classificar.