A greve convocada pela Federação Nacional dos Médicos (FNAM), hoje e amanhã, está a causar perturbações no serviço de saúde. No Hospital de São João, no Porto, muitas consultas foram adiadas e a falta de médicos, nomeadamente anestesistas, pode levar ao encerramento total do bloco operatório.
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Há mais de 14 meses que decorrem as negociações entre o Ministério da Saúde e os sindicatos médicos. Na sexta-feira, o ministério de Manuel Pizarro apresentou, segundo a FNAM, um "rascunho de uma proposta" que tem "problemas de forma". Em resposta à falta de uma proposta "mais séria", a FNAM cumpre uma greve que está a decorrer durante esta quarta-feira e que termina no final de quinta-feira. No Hospital de São João, a adesão ronda os 60%.
"O grave problema desta proposta é que a valorização do trabalho não é transversal para todos os médicos. E nós queremos que a proposta abranja os médicos de família, os de saúde pública, os hospitalares e os médicos internos que parece que foram esquecidos e que são um terço da nossa força de trabalho", afirmou Joana Bordalo e Sá, presidente da FNAM, esta quarta-feira, em declarações ao jornalistas em frente ao Hospital de São João, onde centenas de médicos se concentraram para reivindicar os seus direitos.
Joana Bordalo e Sá acrescenta que os médicos só querem "que o trabalho seja valorizado de forma transversal e não à custa de suplementos voláteis e que o aumento do salário base seja equitativo entre as várias especialidades".
Consultas adiadas e sem nova data
A federação espera uma "grande adesão" e os efeitos já se faziam notar no início desta manhã. "Os blocos operatórios estão a encerrar", garantiu Joana Bordalo e Sá. No Hospital de São João muitas pessoas viram as consultas adiadas e algumas sem garantia de nova data. A adesão ao bloco de cirurgias programadas está acima dos 95% e o serviço de obstetrícia conta com 85%.
Junto à porta das consultas externas, Sílvia Macedo contou que veio do município de Lousada mas quando chegou disseram-lhe que a "consulta estava anulada porque a médica fez greve". Sem nova data, apenas com a indicação de que em breve será informada, admite que lhe causou muito transtorno, perdeu o dia de trabalho e ainda teve gastos de deslocação. "Tal como me avisaram que tinha consulta marcada através do telemóvel, podiam mandar-me mensagem a dizer que não havia consulta", afirmou.
Serviço de urgência em risco
A FNAM tem duas reuniões marcadas com o Ministério da Saúde, uma sexta-feira e outra na próxima terça-feira, nas quais irá "apresentar uma contraproposta" e espera "bom senso" por parte da tutela.
"Os médicos obstetras do Hospital Santa Maria entregaram a escusa, já ultrapassaram o limite de horas extraordinárias e não vão trabalhar nem mais uma hora para além das 150", afirmou a presidente da FNAM.
Adiantou ainda que no Hospital Amadora Sintra, "os 37 médicos de medicina interna que asseguram um dos serviços de urgência mais pesados deste país, também entregaram a mesma escusa e já se percebeu que sem médicos no Serviço Nacional de Saúde pode haver uma implosão total do serviço de urgência", alertou.