Contratações do Governo na área de comunicação visam gerir crises, dizem especialistas
O ambiente do país, com a crise económica e serviços públicos deficitários, poderia criar a ideia de que "o sistema está a falhar completamente", enquanto os contribuintes são sobrecarregados de impostos. Isso, associado a constantes erros de comunicação, poderia levar à queda do Governo "em seis meses", apesar da maioria absoluta, consideram especialistas em Ciência Politica, justificando, assim, as recentes contratações no Executivo PS para gerir a informação passada aos cidadãos.
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O grande sinal de que o Governo não estava seguro, apesar de possuir maioria absoluta, deu-se com o polémico despacho do ministro Pedro Nuno Santos sobre o novo aeroporto de Lisboa. "Não tinha maioria absoluta há muito tempo e não estava preparado. Daí, os erros brutais de comunicação [do Governo]. O principal foi o daquela questão do aeroporto. São erros que têm que ser combatidos", considera o investigador de Ciência Política José Adelino Maltez.
O erro sobre o novo aeroporto de Lisboa não poderia ter sido evitado pelo diretor de comunicação, contratado por António Costa em inícios de junho. É que, João Cepeda "tinha entrado há pouco tempo". Entretanto, já se notam diferenças.
"A maioria dos ministros está calada e Pedro Nuno Santos, volta e meia, aparece no teatro, mas orientado para atirar cascas de banana ao líder do PSD", sublinha José Adelino Maltez.
Já Pedro Silveira acredita que "ainda é cedo para perceber o impacto do diretor de comunicação. É um grande desafio para qualquer pessoa, porque não existe cultura em Portugal de profissionalização da comunicação do Governo", aponta o professor da Universidade da Beira Interior.
Um "caso estranho"
Silveira e Maltez já concordam no facto de o primeiro-ministro ter conseguido antecipar os riscos dos próximos meses. "Percebeu que ia ser um mandato onde existia a necessidade de lidar com diferentes crises, como as questões relacionadas com a guerra, o estado da saúde ou da proteção civil", afirma Pedro Silveira.
"As constantes notícias de fecho de urgências criam um ambiente mental de insegurança. Parece que vivemos num país onde nem se consegue ter um filho descansadamente. A ideia que passa é que o sistema está a falhar completamente", acrescenta José Adelino Maltez, considerando que António Costa conseguiu antecipar "alguns eventuais imponderáveis. O Governo podia cair em seis meses por causa dos erros de comunicação", sustenta.
A contratação pelo Ministério das Finanças, divulgada ontem pelo jornal Público, do ex-jornalista Sérgio Figueiredo para monitorizar impacto das políticas públicas surge nesse enquadramento. "Fernando Medina está a evitar o erro que cometeu quando perdeu eleições e a tentar perceber quais são os imponderáveis da maioria de António Costa", crê Maltez.
Pedro Silveira, contudo, percebe por que é que essa contratação está a gerar polémica: "Faz um pouco parte da ideia de que a comunicação tem que conseguir lidar com o que o Governo está a fazer. Mas o cargo é um pouco estranho: alguém da comunicação a monitorizar políticas públicas. Pode ficar a ideia de um favor. E isso belisca a credibilidade do Governo".
"Subserviência" e "pagamento de favores a amigo", criticam partidos
Para o deputado do PSD, Duarte Pacheco, a contratação de Sérgio Figueiredo mostra "uma grande promiscuidade entre o Governo" e alguns media. "As escolhas públicas não podem estar reféns de redes de amigos ou do pagamentos de favores", anui Pedro Filipe Soares (BE). Já Rodrigo Saraiva, da IL, questiona se a proximidade com Medina "já existia" quando Figueiredo era jornalista. Chega quer chamar Medina ao Parlamento e Susana Coroado (Transparência Internacional Portugal) critica o "padrão de nomeação de amigos".