Após dois anos de confinamento por causa da pandemia, marcados pelo medo de infeção por covid-19, este mês de dezembro está a ser de "regresso em cheio" dos almoços e jantares de Natal nos restaurantes do Porto. E já são poucas as vagas disponíveis nos principais estabelecimentos da Baixa, estando as reservas efetuadas com números idênticos aos de 2019. Em Braga, Aveiro e Lisboa o cenário é idêntico.
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Os 45 funcionários da Assa Abloy destacam-se junto ao Teatro Rivoli, no Porto, pelos gorros roxos de Pai Natal. Sobem a Rua do Bonjardim e param junto à porta da Conga, restaurante conhecido pelas bifanas. Mas são francesinhas o que vão comer. "Somos um grupo de trabalhadores de todo o país. A nossa empresa produz sistemas de segurança e portas automáticas. No ano passado o almoço foi em Lisboa, este ano é no Porto", conta Ana Fernandes, diretora geral.
O momento é de descontração e alegria até porque, como refere Carla Costa, administrativa, esta é a única altura do ano em que os colegas se encontram e não estão a comunicar apenas por telefone. São 15 horas quando entram na Conga.
Neste casos, "a coisa é feita cada vez mais com profissionalismo". Pedro Barros, da agência de viagens e animação turística Alma at Porto, não tem por estes dias mãos a medir. O grupo da Assa Abloy, por exemplo, participou durante a manhã num peddy paper e na degustação de petiscos.
"Esta é uma altura do ano muito importante para a restauração. Estes anos de pandemia foram péssimos e este Natal será o do regresso à normalidade, apesar da guerra na Europa e da crise financeira", diz Emanuel Ribeiro, gestor da Conga, onde os turistas, apesar de já não ser verão, continuam a ser responsáveis por metade da faturação da casa.
Em frente à Conga está o Pedro dos Frangos, outro dos restaurantes mais procurados no centro do Porto e, pelas paredes, as fotografias, algumas a preto e branco, comprovam a tradição. "Aqui o rei da mesa é o frango assado e já temos as sextas, os sábados e os domingos lotados", diz o gerente Nuno Valente.
Nesta altura festiva, o assador não descansa e a azáfama é grande com os funcionários da casa, aberta desde 1961, a circularem com os pratos por corredores e escadas, num acima e abaixo constante. Aos fins de semana são assados cerca de 400 frangos.
As canecas de cerveja continuam a cair nas mesas da Conga e, à medida que o tempo passa, cresce a animação do grupo da Assa Abloy. O diretor de operações, António Barroso, residente em Odivelas, explica que "é o culminar de um ano à espera deste momento de confraternização".
Os restaurantes com salas de jantar maiores são os mais procurados. É o caso da confeitaria Império, na Rua de Fernandes Tomás, que serve refeições e tem duas salas, uma com 150 e outra com 100 lugares. O número de pessoas por grupo chega a superar as 60. "Já ultrapassamos a quantidade de reservas que tínhamos na pé-pandemia e neste momento estamos praticamente lotados, sobretudo ao fim de semana", conta a gestora Adriana Vital. O melhor é marcar reserva com uma antecedência de 15 dias. "Tivemos dois anos complicados em termos de faturação devido à covid mas penso que as pessoas já não estão com tanto receio de sair e conviver", diz, dando o exemplo dos estudantes que ao longo do ano fazem reservas com frequência.
"Esta é uma altura de muito trabalho mas não nos queixamos. Esperemos é que a crise não estrague tudo", salienta Cristina Lourenço, funcionária do restaurante Sai Cão há 17 anos. A sala não é grande e nada pretensiosa, sendo o estabelecimento conhecido pelos seus pratos económicos, pela famosa posta e pelo bacalhau. "O máximo que temos são grupos de 20 pessoas e sobretudo ao jantar. O pior é sempre pôr a malta na rua porque. Por eles, ficavam até de madrugada e nós no outro dia temos de ter tudo a postos para reabrir cedo. Mas eles compreendem e nunca há problemas", acrescenta Cristina.
Braga
Os menus dos restaurantes estão mais caros, mas isso não tem desanimado os grupos de amigos, empresas e famílias de Braga a juntarem-se nesta época para retomar os habituais jantares de Natal. Dois anos após a pandemia, há responsáveis que referem que os convívios são feitos, agora, por grupos mais pequenos. Outros admitem que tudo voltou ao normal, com ajuntamentos com dezenas de pessoas.
Na Casa Alves chegam a receber "quase 300 pessoas durante o fim de semana", conta a gerente, Catarina Costa. "Temos jantares de Natal quase todos os dias. E temos desde grupos de 10 a 70 pessoas", elucida a responsável. Um cenário idêntico vive Tiago Carvalho, dos restaurantes Tasca do Paiol e Kartilho. "O pessoal está com vontade de estar entre amigos. E temos os tradicionais jantares de primos que se fazem nesta quadra", refere o empresário.
No Astória, Manuela Cruz adianta outra realidade. O restaurante tem recebido "menos grupos e mais pequenos" do que o período pré-pandemia. A mesma versão conta Mário Pereira, do Café Vianna. "Ainda não se sente a crise, mas estamos com receio a partir de janeiro", remata Belkis Pereira, do Migaitas Forum.
Aveiro
Em Aveiro, os restaurantes já estão a realizar jantares de empresas que querem celebrar o Natal com os funcionários e têm reservas até ao final do ano. No último fim-de-semana, a "Nossa Casa", restaurante especializado em peixe e marisco, esteve cheio. E, até ao final do ano, há "muitos dias esgotados e em que já não aceito reservas", conta Fernando Jorge. "As empresas que costumavam fazer estes convívios estão a retomar", acrescenta, satisfeito.
Também "O Batista do Bacalhau" já recebeu empresas nos últimos dias e tem reservas para os próximos fins-de-semana. Nos dias de semana também têm recebido grupos, "mas mais pequenos", especifica Ângela Caçola, sublinhando que os pedidos chegam tanto de empresas como de grupos de amigos.
A procura "ainda não está ao nível antes da pandemia, mas está a caminhar para isso", diz Ângela, revelando que regra geral procuram "a ementa mais económica".
No "Espeto do Sul", Wagner Soares confirma que já realizaram jantares de Natal de empresas e têm mais "reservas".
Lisboa
Os jantares de Natal estão a regressar em força a Lisboa, após dois anos sem convívios natalícios. "No ano passado não tínhamos jantares de grupo e agora é todos os dias. Hoje já não dá para reservar mais", diz Mário Almeida, gerente da Mercantina, que teve sete reservas nos primeiros dias de dezembro.
A Fábrica Imperial já está a recusar reservas. "Algumas pessoas estão em lista de espera. Antes só aceitávamos jantares de Natal às sextas e sábados. Agora, tenho duas a três reservas por noite que me enchem o restaurante todo e até em dias de semana", conta Bárbara Ribeiro. A proprietária do estabelecimento diz mesmo que "houve um crescimento face ao Natal de 2019 e as reservas são grandes, de 20 e 30 pessoas".
Manuel Verdugo, vice-presidente da Casa do Alentejo, também está entusiasmado. "Até abrimos num dia em que estávamos fechados para fazermos um jantar de Natal de uma empresa. Sentimos uma procura maior à pré pandemia", diz Manuel Verdugo, que já conta com "mais de 20 reservas" para jantares de Natal e muitos dias com "a casa completamente cheia".