O embaixador da Colômbia em Portugal defendeu esta terça-feira que a cooperação internacional é a única forma de combater o problema mundial do narcotráfico, considerando que as estratégias atuais contra o crime fracassam.
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"O narcotráfico é um problema mundial e deve ser combatido através da cooperação internacional, em todas as instâncias, visto que, até ao momento, o enfrentamento deste tipo de criminalidade tem fracassado", declarou o embaixador colombiano José Fernando Bautista.
O diplomata fez estas declarações durante a sua intervenção no debate "América Latina: Impacto do crime organizado na violência e segurança dos cidadãos e seus efeitos na politica regional", realizado hoje em Lisboa.
Segundo Bautista, a violência do narcotráfico está a provocar "mais mortes de latino-americanos que as atuais guerras no mundo", sobretudo entre os jovens.
A Colômbia é o segundo país com a maior criminalidade do mundo, o México fica na terceira posição e o Paraguai em quarto lugar, de acordo com o Global Organized Crime Índex 2023, que coloca Myanmar na primeira posição. O Brasil ocupa a 22ª. posição neste ranking mundial.
"Nunca houve tanta entrada de drogas, assim como a produção, distribuição e consumo na zona europeia como ocorre atualmente, o que está a gerar também violência, nomeadamente em zonas de maior vulnerabilidade", afirmou Alexis Goosdell, diretor do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência.
Goosdeel sublinhou o panorama atual na Europa mostra o caráter mundial do problema, concordando que a cooperação internacional é fundamental para o enfrentamento do narcotráfico.
De acordo com o responsável europeu, a região europeia não é só consumidora, mas também é produtora de drogas - nomeadamente sintéticas -, num mercado que tem crescido de forma exponencial.
Partir a "espinha dorsal" do narcotráfico
Para o embaixador brasileiro em Lisboa, Raimundo Carreiro, o combate também passa por partir a "espinha dorsal" do narcotráfico, impossibilitando as suas operações financeiras e a apreensão dos bens relacionados a estes grupos criminosos.
Carreiro referiu que o combate à corrupção tem um papel importante porque os narcotraficantes subornam "desde o guarda prisional até as altas figuras" do poder.
"A organização do narcotráfico é transnacional" e associa-se a outros tipos de crimes, como sequestros, branqueamento de capitais, cobrança ilegal de segurança", declarou o embaixador mexicano em Portugal, Bruno Figueroa.
O diplomata mexicano também sublinhou o enorme problema que o México enfrenta com a entrada de armas dos Estados Unidos, que abastece os gangues criminosos do seu país, gerando cada vez mais violência. O México está a processar várias empresas de armas e de distribuição dos Estados Unidos nos tribunais norte-americanos.
Os três embaixadores latino-americanos e o responsável europeu concordaram que a cooperação a vários níveis é fundamental para o enfrentamento do narcotráfico, mas também alertaram que existem muitos obstáculos, nomeadamente de setores da sociedade que lucram com esta atividade ilegal, nomeadamente o sistema financeiro internacional.
Os embaixadores também concordaram que além do combate direto ao narcotráfico, com a ajuda das polícias, dos exércitos, dos serviços de informação, é primordial focar nos problemas sociais dos países, ajudando no desenvolvimento das populações menos favorecidas, nomeadamente os jovens, proporcionando acesso à educação e ao emprego para evitar que caiam nas redes da criminalidade.
A situação no Equador, que está a passar por uma situação de criminalidade violenta, também foi lembrada pelos diplomatas, demonstrando total apoio ao Presidente equatoriano, Daniel Noboa, que decretou estado de emergência e declarou que o país andino está num "estado de conflito armado interno".