Copo d'água a dois e a família num ecrã. O casamento de Ana e Rui durante a pandemia
"O amor nunca falha". Em tempo de pandemia, a frase lida durante a cerimónia de casamento de Ana e Rui, nunca tivera tanto significado. Ao contrário de muitas centenas de noivos, que adiaram o matrimónio devido à covid-19, o casal de 28 e 32 anos decidiu seguir com o sonho e selou o amor no último sábado, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, no Porto.
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Diante do altar, Ana e Rui tiveram a certeza de que tinham tomado a decisão certa - não adiar um sonho. A covid-19 alterou-lhes os planos, trouxe frustração e angústia, mas não demoveu o casal do Porto de cumprir o que tanto desejavam.
Noivos há um ano e cinco meses, tinham tudo definido para casar no dia 2 de maio. O estado de emergência impediu a concretização do casamento na data prevista, mas não desistiram: casaram no dia 9 de maio, num sábado chuvoso e cinzento, mas com um brilho especial numa igreja com muito significado para Ana. "Não queríamos esperar mais pela possibilidade de dizer o 'sim' que nos ligaria para sempre", explica ao JN a jovem brasileira, a viver há dois anos e meio no Porto.
A cerimónia foi muito mais do que aquilo que imaginávamos
A cerimónia não contou com a habitual presença de amigos e familiares. Não houve abraços e beijos. Os pais do noivo e as testemunhas, os únicos presentes na cerimónia além do membros da paróquia e do fotógrafo, cumpriram as distâncias a que obriga a nova realidade, e apesar das máscaras nos rostos esconderem os sorrisos, não disfarçaram a emoção. "A cerimónia foi muito mais do que aquilo que imaginávamos", confidencia Ana.
Roupas compradas online e transmissão em direto para a família
Tudo foi diferente do que tinham idealizado, mas os pormenores gerados pelas circunstâncias acabaram por dar um brilho único ao momento. O vestido e o fato foram comprados online, uma vez que as lojas onde tinham encomendado as primeiras opções estavam fechadas.
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"Fiquei tão feliz e apegada com esse novo vestido que nem fiquei triste por não ter usado o outro", conta Ana, acrescentado que vai guardá-lo para quando puder reunir-se com a família e amigos. As "alianças de última hora" e os outros pormenores, como o ramo, o acessório para o cabelo e a flor da lapela, foram comprados graças ao fim do estado de emergência e à reabertura dos estabelecimentos.
O dilúvio sentido no último sábado, não anulou a atmosfera "alegre e serena" do casamento de Ana e Rui. A igreja vazia foi preenchida com o afeto dos familiares da noiva, que assistiram a tudo do Brasil, através de uma transmissão em direto. A proximidade tornou-se possível. Não houve tristeza. "Sabemos que a nossa visão sobre o momento pode não ser a mais comum ou partilhada pelos noivos que se depararam com a questão do adiamento. Mas gostaríamos de dizer que o casamento tal como foi realizado, em momento algum perdeu para nós a sua grandiosidade, o sentimento profundo de comunhão existencial e a alegria que tínhamos sonhado", explica Ana.
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A pandemia vivida em Portugal e no Mundo trocou as voltas ao casal. Acompanhar as notícias e perceber que o casamento que tinham idealizado, com cerca de 70 convidados, poderia não ser realizado, deixou-os angustiados.
Católicos praticantes, a vontade de casar em maio, mês "da primavera, das mães e de Maria" tinham um significado muito especial. A verdade é que a situação vivida ensinou-os a "não criar muitas expectativas" sobre os planos delineados e a valorizar o essencial. Foi assim que tomaram a decisão. E foi tudo "um sonho".
"Se o que nós mais queríamos era a realização do sacramento, passamos a ver a festa como algo secundário e complementar. Perante as dificuldades de reunião de pessoas, discutimos juntos o que para nós era de facto basilar. E percebemos que poderíamos deixar a festa para uma outra data, e que isso não estragaria nem tiraria o brilho desses dois momentos".
Copo d'água em casa a dois e com sushi
A decisão foi apoiada pela família e amigos, que acompanharam como puderam toda a celebração. No final do casamento, o copo d"água foi passado em casa, a dois. Ana e Rui encomendaram sushi e brigadeiros e brindaram com champanhe, comprado para a ocasião. Após o jantar, conversaram através das redes sociais com os familiares. Uma celebração diferente adaptada aos novos tempos.
Ainda assim, a festa de casamento é um desejo e será conjugada com uma renovação de votos. "Brincamos que não nos importamos de casar um com o outro várias vezes ao longo da vida".