Costa diz que é preciso compreender as "causas profundas" que levaram à subida do Chega
O primeiro-ministro cessante afirmou, esta terça-feira, que é preciso compreender as "causas profundas" que levaram a que o Chega tenha tido 18% nas legislativas. "Todos, seguramente, temos de refletir", disse António Costa. Também apelou à "estabilidade das legislaturas", desejando que o novo Governo cumpra o mandato.
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"Todos, seguramente, temos de refletir. Acho que pouca gente diria que aqueles teriam sido os resultados", afirmou Costa, em Santa Maria da Feira, quando questionado sobre o resultado do Chega. "É preciso compreender quais são as causas profundas que fazem com que um milhão de pessoas entenda que deve empregar o seu voto naquela oferta política", acrescentou.
Perante os jornalistas, o governante assumiu a sua quota-parte de responsabilidades pela subida da extrema-direita: "Quem foi primeiro-ministro durante oito anos tem, seguramente, responsabilidade nos resultados eleitorais que existem a seguir", declarou.
Já na noite eleitoral, ainda antes de o líder do PS, Pedro Nuno Santos, ter assumido a derrota, Costa tinha sublinhado a necessidade de se analisar ao pormenor o resultado do Chega, nomeadamente para que se perceba que parte da subida é "conjuntural" e que parte é "estrutural". Na ocasião, afirmou que a conjuntura de inflação, aliada à forma como o seu Governo caiu, poderá ter contribuído para que a extrema-direita subisse mais do que o esperado.
Pede "estabilidade nas legislaturas" e deixa crítica indireta a Cavaco Silva
António Costa também expressou o desejo de que o próximo Governo não caia antes do tempo. "Acho que as legislaturas são para cumprir. Para Portugal, tem sido uma vantagem competitiva importante ter havido estabilidade nas legislaturas, e espero que o facto de termos tido uma recente insabilidade não passe a ser o novo padrão", referiu.
No entanto, o primeiro-ministro rejeitou que esse apelo à estabilidade seja um piscar de olho a entendimentos entre PS e PSD: "Quem tem legitimidade para se pronunciar sobre o futuro e sobre o que o PS deve ou não fazer é o atual líder do PS", afirmou, sublinhando que a fase da sua vida em que tomava essas decisões "está encerrada". "Estou em retirada", reforçou.
Dito isto, Costa aproveitou para deixar uma crítica implícita a Cavaco Silva - que, pontualmente, regressa à arena política para fazer duras críticas aos Governos socialistas: "Tenho olhado para a experiência alheia e não há nada pior do que quem deixa de estar ao volante pôr-se a dar opiniões sobre quem tem agora o encargo de conduzir".
Assumindo a "frustração" por não poder concluir a execução do PRR, o primeiro-ministro cessante frisou, contudo, que o que importa ao país é que o programa continue "em andamento". Disse ter a "certeza absoluta" que as eleições antecipadas não representarão "qualquer tipo de sobressalto" para o processo e salientou que o próximo Executivo vai estar em condições de decidir a localização do novo aeroporto de Lisboa logo que entre em funções.
António Costa desejou "as maiores felicidades" tanto ao líder do seu partido, Pedro Nuno Santos, como ao próximo primeiro-ministro, Luís Montenegro. Disse acreditar que o Parlamento tome posse entre a última semana de março e a primeira de abril e que, logo depois, seja a vez de o novo Executivo assumir funções.