O primeiro-ministro afirmou, esta sexta-feira, no debate do Estado da Nação, que a "Geringonça" está "sem duplicidade" no "coração e na cabeça" do Governo, salientando que esta solução política começou a ser construída com PCP e PEV, juntando-se depois o BE.
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Esta referência à história política da atual solução governativa foi transmitida por António Costa na Assembleia da República, após o líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares, ter perguntado ao primeiro-ministro se a "Geringonça" está também no coração do PS.
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Pedro Filipe Soares insurgiu-se contra afirmações proferidas por dirigentes socialistas em que se caracteriza como eleitoralismo a adoção de medidas para o aumento das pensões e dos salários, combate à precariedade laboral ou proteção dos direitos dos trabalhadores.
O primeiro-ministro respondeu ao líder parlamentar do Bloco de Esquerda alguns minutos depois: "A Geringonça está não só no nosso coração, como também na nossa cabeça, com a mesma determinação como a começámos a construir com o PCP e PEV, que com satisfação vimos juntar-se o Bloco de Esquerda".
"Estamos não só com o coração, mas também com humildade e sem duplicidade. É assim que continuaremos até ao fim", declarou António Costa, recebendo uma prolongada salva de palmas do PS.
PSD não concorda
O PSD afirmou que a atual solução de Governo "está esgotada" e classificou a maioria que apoia o executivo como "demagógica e ilusionista", recusando que a "Geringonça" esteja no coração dos portugueses, como tem afirmado António Costa.
"Porque estamos em tempo de balanço, só podemos concluir que quem conduz hoje o país é uma maioria que tem tanto de demagógica como de ilusionista, cujo único projeto comum é o desejo de manter as aparências de estabilidade, pois só essa estabilidade lhe garante a manutenção do poder", acusou o líder parlamentar do PSD, Fernando Negrão, na intervenção de fundo do partido no debate do estado da nação.
Para Negrão, a atual solução "nada mais tem para oferecer aos portugueses", considerando que são cada vez mais evidentes "as grosseiras contradições desta coligação de esquerda, que não hesita em sacrificar o bem-estar comum ao mais elementar instinto de sobrevivência política de cada uma das partes que compõe esta geringonça".
"Por isso, não se iluda, senhor primeiro-ministro: ao contrário do que diz, esta geringonça não está no coração dos portugueses. E sabe porquê? Porque os portugueses não se deixam levar por conversa fiada, por quem diz uma coisa e faz outra, por quem não honra a sua palavra", acusou, numa passagem muito aplaudida pela sua bancada, que no final se levantou para aplaudir Negrão.
Jerónimo exige "escolhas" a Governo obcecado por défice e dívida
O líder comunista desafiou o Governo a "fazer escolhas" que não pelo défice e a dívida, num país em que se diz "que não há dinheiro para tudo, mas sobra sempre muito para uns poucos".
"É preciso fazer escolhas, que sirvam os trabalhadores, o povo e o país e isso exige romper com os constrangimentos que inviabilizam o desenvolvimento, como o da submissão ao euro e do serviço da uma dívida insustentável que vai sugar 35 mil milhões de euros em juros até 2022", afirmou Jerónimo de Sousa, no debate parlamentar sobre o estado da nação.
O secretário-geral do PCP defendeu a necessidade de "canalizar a margem de crescimento económico para o investimento público, defesa da produção nacional e reforço dos serviços (saúde, educação, transportes)" e "travar a drenagem dos dois mil milhões de euros ao ano para as Parcerias Público-Privadas (PPP) ou os mais de 1,2 mil milhões gastos em 'swap' (contratos de cobertura de risco financeiro)".
"Só em 2017, a EDP deveria ter pago cerca de 400 milhões de euros em impostos, mas pagou apenas 10 milhões. Diz-se que não há dinheiro para tudo, mas sobra sempre muito para uns poucos", condenou.
Jerónimo de Sousa, lamentando a governação socialista marcada "pela obsessão do défice e pela recusa de renegociação da dívida", criticou também um dos recentes acordos celebrados entre PS e PSD, referindo-se à descentralização.
Cristas proclama CDS como alternativa ao "bloco central de interesses"
A presidente do CDS-PP, Assunção Cristas, defendeu que os centristas constituem a alternativa "não socialista", fora do "bloco central de interesses", esse "eterno tratado de Tordesilhas da política portuguesa".
Na intervenção final no debate do estado da Nação, a líder centrista concentrou a primeira parte do seu discurso a fazer um diagnóstico crítico da governação e dos seus efeitos no país e uma segunda parte, sensivelmente com a mesma duração, a afirmar a alternativa que, disse, o CDS está a construir.
Assunção Cristas proclamou que essa será "uma alternativa que não sonha com um bloco central de interesses, o eterno Tratado de Tordesilhas da política portuguesa".
BE desafia Governo a assumir o "enorme falhanço" da estratégia europeia
A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, desafiou hoje o primeiro-ministro a assumir o "enorme falhanço da estratégia europeia", advertindo que não há consolidação orçamental sem crescimento económico.
"Aprendamos com o caminho feito: valeu a pena cada uma das vezes que defendemos o país, apesar de Bruxelas", afirmou Catarina Martins, num pedido de esclarecimento no debate sobre o estado da nação, no parlamento.
Catarina Martins defendeu que se o país precisa de reconstruir os seus serviços públicos e o seu território não deve adiar "uma estratégia orçamental que leve o combate à desigualdade, social e territorial, tão a sério como as metas do défice orçamental".
"Que assuma o enorme falhanço da estratégia europeia e afirme o que já sabíamos e já demonstrámos: Não há consolidação orçamental sem crescimento económico, não há crescimento económico sem recuperação de salários e pensões, sem recuperação do Estado Social", defendeu.