O primeiro-ministro revelou, esta quarta-feira, ter conversado com presidente aquando dos incidentes e recusou esclarecer envolvimento do seu secretário de Estado adjunto na ação do SIS
Corpo do artigo
O primeiro-ministro revelou, no Parlamento, que falou com Marcelo de Rebelo de Sousa sobre o alegado roubo de um computador do Ministério das Infraestruturas, aquando dos incidentes. Porém, quando questionado pelos deputados sobre o teor da conversa, António Costa aproveitou para "corrigir" a revelação e garantiu que não informou o presidente sobre a intervenção das secretas.
Já no que toca ao seu secretário de Estado adjunto, manteve o silêncio e recusou, ao longo de todo o debate, responder se António Mendonça Mendes disse ao ministro João Galamba para ligar ao Serviço de Informações de Segurança (SIS).
Desafio à censura do PSD
Num plenário em que foi constantemente atacado devido à intervenção do SIS, Costa defendeu a tese de que as secretas não agiram por "ordem" ou "orientação"de qualquer governante. E desafiou mesmo o PSD a apresentar "uma moção de censura" ao Governo se não concorda com a avaliação de que os serviços de segurança atuaram bem na recuperação do computador do ex-adjunto de Galamba, Frederico Pinheiro. "Se não estiver de acordo, apresente uma moção de censura para me demitir de primeiro-ministro", exortou.
Logo na abertura do debate, Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda, abordou o caso, afirmando que a atuação do SIS não tem base legal."
"Os serviços agiram corretamente para prevenir riscos para a segurança nacional, não desempenharam nenhuma função policial", respondeu Costa a propósito da recuperação de um computador, acrescentando que "nenhum membro do Governo deu ordem ao SIS para proceder a essa ação". Uma ideia que repetiu ao longo de todo o plenário.
Foi perante a insistência de Miranda Sarmento, líder parlamentar do PSD, no que respeita às horas dos contactos sobre os incidentes de 26 de abril, que o chefe do Governo acrescentou Marcelo à lista de contactos feitos aquando dos incidentes.
Costa recordou que, quando regressou de férias, disse à RTP (no dia 1 de maio) que não teve conhecimento prévio da intervenção do SIS. "Outra coisa" diferente" era "se tinha falado ou com o ministro" João Galamba, algo que "ninguém" lhe perguntou, assegura o primeiro-ministro, para negar as alegadas contradições entre a sua versão e a do ministro das Infraestruturas.
"Falei como falei com outros ministros e com o presidente da República", revelou logo de seguida.
Sobre os contactos daquela noite, disse que não atendeu o ministro porque estava a conduzir, tendo sido a sua mulher a ver "quem era", e que devolveu a chamada já no hotel, tendo Galamba dito que já tinham sido chamados o SIS e a PJ.
Líder segura ministros
Mais tarde, André Ventura, líder do Chega, quis saber mais sobre a "notícia nova" que o primeiro-ministro deu ao revelar que falou com o presidente. "Se disse de alguma forma que tinha informado o presidente da República sobre a intervenção do SIS, aproveito para corrigir: nunca informei o presidente", reagiu Costa.
O primeiro-ministro recusou esclarecer, conforme exigiram vários deputados, se tem conhecimento de uma conversa de Mendonça Mendes com João Galamba para que ligasse ao SIS, e se essa conversa foi a seu pedido. "Nunca me ouviu responder sobre alguma conversa que tive consigo. Não revelo publicamente as conversas que tenho", respondeu a Ventura.
A Operação Tutti Frutti também não faltou, com Costa a ser confrontado por várias bancadas com a reportagem da TVI/CNN sobre uma alegada troca de favores entre PS e PSD para as listas autárquicas de 2017 e que envolve Fernando Medina e Duarte Cordeiro. Costa respondeu que mantém "toda a confiança política" nos ministros das Finanças e do Ambiente e que não os irá demitir.