IL, BE e Chega querem primeiro-ministro a falar à comissão, PS opõe-se. Montenegro diz-se pronto a governar e Marcelo lembra que continua atento.
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António Costa está a ser pressionado para revelar o que sabe sobre o telefonema feito do Ministério das Infraestruturas para os serviços secretos. IL, BE e Chega querem ouvir o primeiro-ministro na comissão parlamentar de inquérito (CPI) da TAP, após o ministro João Galamba ter revelado que, na noite da polémica no ministério, informou Costa das ocorrências. Contudo, o PS opõe-se, acusando a Oposição de querer "degradar as instituições". O presidente da República também manteve a pressão, lembrando que continua a acompanhar "atentamente" a situação da TAP.
No dia seguinte à ida de João Galamba à CPI, a Direita em peso voltou a criticar o ministro. Além de ter exigido a saída de Galamba, o líder do PSD, Luís Montenegro, também revelou ter telefonado a Costa para pedir a demissão da secretária-geral do SIRP, Graça Mira Gomes. Ambos engrossam o "pântano político" criado pelo Governo, sustentou, tendo sido acusado pelo líder parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, de alimentar visões "populistas".
Ontem, o ministro da Administração Interna afirmou estar disponível para ir à CPI, depois de Galamba ter revelado que lhe ligou na noite do alegado roubo e agressões no Ministério das Infraestruturas. "Mais do que estar disponível, é uma obrigação, referiu José Luís Carneiro, lembrando que a CPI tem "poderes de requisição".
Quem deu a ordem?
No requerimento para ouvir Costa na CPI, a IL vincou que Galamba deu duas novidades ao país na quinta-feira. A primeira, referem os liberais, é o facto de ter sido o secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, Mendonça Mendes, a sugerir que o SIS fosse contactado no seguimento do episódio do computador.
Já a segunda revelação, "porventura mais importante", é que o primeiro-ministro, que tinha dito "não ter conhecimento da intervenção do SIS, terá afinal sido informado" na mesma noite, por Galamba, "de tudo o que aconteceu" - incluindo o pedido às secretas. A IL pede que Costa tenha "a coragem" de ir "pessoalmente" à CPI.
Também o BE deseja que as explicações do chefe do Governo sejam dadas, "de preferência, presencialmente". Lembrando que Mendonça Mendes sugeriu a Galamba que acionasse o SIS, o líder parlamentar bloquista, Pedro Filipe Soares, quis saber se essas ordens "tiveram responsabilidade do primeiro-ministro".
Já André Ventura, do Chega, disse apoiar o requerimento da IL, que tinha sido feito pouco antes. Afirmando ter "a convicção" de que foi Costa a chamar o SIS, bem como "informações" de que o primeiro-ministro já "terá tentado encontrar sucessores" de João Galamba, o deputado voltou a pedir a demissão do ministro das Infraestruturas.
Belém não fala... para já
O PS, contudo, não tem intenção de permitir que Costa seja interrogado pela CPI. "Olhamos para a comissão e vemos que não discute a TAP, mas pretende antes debater elementos laterais", criticou o líder parlamentar socialista, Brilhante Dias.
O deputado disse não querer alimentar uma história "que tem pés de barro", vendo como um dado adquirido que o primeiro-ministro "não participou, em momento algum, no acionamento" do SIS. Sobre os pedidos de IL, BE e Chega, considerou-os "um exemplo bem ilustrativo de como se pretende degradar as instituições".
Perante a convulsão no Governo, Luís Montenegro procurou dar nova prova de força, afirmando estar "cada vez mais empenhado" em começar a preparar um Governo. "O PSD está pronto para ir a votos, para ganhar eleições e para governar Portugal", assegurou. Num piscar de olho a Marcelo Rebelo de Sousa, considerou ainda que, "com o atual panorama, ou o Governo se demite ou é demitido".
Ontem, o presidente da República garantiu que está a acompanhar "atentamente" a situação em torno da CPI da TAP, "quer na parte económica, quer na parte política". Marcelo considera que, "neste momento", deve manter-se em silêncio, mas adiantou que falará ao país "quando for necessário, se for necessário".
"Tudo o que eu disse há 15 dias mantém-se exatamente nos termos em que disse", referiu o chefe de Estado, à porta do Palácio de Belém. Questionado sobre a manchete do "Expresso" - que garante que o presidente não segurará o primeiro-ministro se Galamba cair -, frisou apenas: "Se houver necessidade de eu me pronunciar outra vez sobre esta matéria, e [sobre] todas as matérias do país, faço eu, não tenho porta-vozes".