As críticas à forma como está a ser atacado o problema do caos nas urgências já chegaram ao interior do PS. Há ex-ministros a pedir mais do que o anunciado plano de contingência e um deputado a querer a demissão da titular da pasta da Saúde. Mas o primeiro-ministro António Costa está irredutível na recusa em abrir a porta de saída a Marta Temido.
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"O país já não tem confiança na atual titular da Saúde. Já não se acredita que ela possa vir a ser, depois de tudo aquilo que vivemos, protagonista de qualquer esforço reformista", afirmou o deputado socialista Sousa Pinto à CNN, atirando: "Para manter as coisas como até aqui, a ministra pode permanecer".
Os ex-ministros da Saúde Maria de Belém Roseira e Adalberto Campos Fernandes não pedem a demissão de Temido. Mas concordam com Sousa Pinto na necessidade de se ir muito além do anunciado plano de contingência para três meses.
Para a antiga ministra da Saúde de Guterres, existe "um problema de fundo" que não pode ser justificado, como o Governo referiu, com os "feriados" ou com as férias dos profissionais.
"É um problema estrutural, agudizado pela circunstância dos feriados. Desde as décadas 80 e 90 que se sabia que esta tendência se ia desenhar", concorda Adalberto Campos Fernandes, referindo-se ao envelhecimento dos médicos.
Por isso, Maria de Belém admite que estava "à espera de bastante mais": "uma envolvência maior e um reconhecimento maior" da valorização dos recursos humanos do setor da Saúde.
"É importante que à mesa negocial se discuta a médio e longo prazo, sem necessidade destas medidas sob pressão", reforça Adalberto Campos Fernandes, defendendo "uma aliança estratégica" entre Governo e sindicatos com vista à "melhoria do quadro remuneratório, das condições de trabalho e da valorização ligada ao desempenho".
Costa já admitiu que, apesar de acreditar que "parte dos problemas" estarão resolvidos a partir de amanhã, existem outros estruturais. Mas recusa demitir a ministra.
"É um clássico da oposição pedir a demissão de membros do Governo", desvalorizou. Quanto às críticas internas, o primeiro-ministro afirmou:"Era o que faltava agora andar a seguir as opiniões do Sérgio Sousa Pinto".