O ministro da Economia, António Costa Silva, estreou-se no Parlamento com um desafio a que os partidos se unam e trabalhem "ombro a ombro" por uma "estratégia para o futuro" na economia. O governante também admitiu vir a aplicar um imposto sobre os lucros extraordinários que as empresas têm obtido devido à inflação.
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Costa Silva traçou seis "alavancas" fundamentais para estimular o crescimento económico - que passam pela qualificação e pela inovação -, defendeu que há potencial para criar "duas Autoeuropas" em Sines e que Braga, Guimarães, Barcelos e Famalicão têm o perfil para se afirmarem como um "quadrilátero de ouro" para a produção de bens de equipamento e industriais.
Com a aposta nas seis "alavancas" - qualificação dos trabalhadores, capitalização das empresas, "inovação tecnológica", "literacia financeira e digital", criação de um "ecossistema de inovação" e renovação do modelo de importações e exportações, o ministro espera colocar o país a crescer 0,5% acima da média europeia.
Costa Silva procurou sensibilizar os vários partidos para a sua causa, tentando amplificar pontos de contacto e esbater as diferenças entre as diferentes conceções e prioridades económicas.
"As crises na História dos países são frequentes, as transformações fundamentais são raras. Temos à nossa frente a oportunidade de fazer uma transformação fundamental do nosso país. Mas, para isso, exige-se que, independentemente das nossas diferenças, saibamos trabalhar uns com os outros ombro a ombro, criando grandes plataformas colaborativas, políticas, sociais e empresariais, para mudar para melhor o nosso tecido produtivo", afirmou o ministro.
Costa Silva admitiu também aplicar um imposto sobre os lucros extraordinários das empresas devido aos aumentos dos preços. "Não podemos hostilizar as empresas, mas vamos falar com elas e, provavelmente, considerar um imposto, um 'windfall tax' [taxa sobre lucros que resultam de ganhos inesperados de empresas ou setores específicos], para os lucros aleatórios e inesperados que estão a ter".
As seis "alavancas" de Costa Silva para pôr o país a crescer
A primeira "alavanca" de que Costa Silva falou foi a necessidade do aumento da qualificação e das competências dos trabalhadores. A este respeito, o ministro considerou que a "proporção da população ativa que termina o Ensino Secundário" tem de continuar a aumentar e que os cursos profissionais devem estar cada vez mais alinhados com "a resposta às necessidades das empresas".
No que respeita à capitalização das empresas, o novo detentor da pasta da Economia realçou a importância de uma banca comercial "saudável", um objetivo no qual o Banco de Fomento deverá desempenhar um papel de relevo.
Referindo-se à inovação tecnológica, Costa Silva defendeu que tem de ser esta via - e não a dos baixos salários - a sustentar o novo modelo de desenvolvimento do país. Nesse sentido, lembrou que o programa do Governo prevê a "descida seletiva do IRC para empresas que investem os seus lucros na atividade económica" e para as que apostem na formação tecnológica.
Neste pilar, confessou-se "muito esperançado" no impulso dado pelas Agendas Mobilizadoras do PRR. Afirmou que estas ajudam a construir a "economia do futuro", nomeadamente estimulando a digitalização, a economia circular ou as biotecnologias marinhas, área na qual Portugal pode ser "uma referência mundial" - em particular, frisou, no que toca à substituição de plásticos e fertilizantes químicos por produtos biológicos.
A quarta "alavanca", a da "literacia financeira e digital", será "decisiva" para eliminar os "30% a 40% do diferencial de produtividade" que Portugal tem face aos países mais desenvolvidos devido à "qualidade ainda fraca" da gestão financeira, referiu Costa Silva. Para isso, anunciou que está a ser pensado um "acordo com as escolas de Gestão", com o objetivo de criar pacotes de formação na área destinados às empresas.
Quanto ao "ecossistema de inovação", o governante afirmou que o país já tem vindo a fazer "um percurso admirável", nomeadamente estimulando o seu sistema científico e tecnológico. No entanto, defendeu que é necessária uma maior "interação" entre a Academia e o tecido empresarial, de modo a desenvolver "novos produtos de alto valor acrescentado".
Por último, Costa Silva também abordou a questão das exportações e importações, preconizando um comportamento em "hélice dupla": por um lado, manter e aumentar as exportações; por outro, promover a "substituição das importações" pela produção nacional, já que "um dos óbices que não deixa a economia portuguesa crescer é o conteúdo importado das nossas exportações".
"Duas Autoeuropas" em Sines
Costa Silva - que acumula a pasta do Mar com a da Economia - defendeu também que o Oceano Atlântico é "o maior ativo" do país. Nesse sentido, defendeu a aposta na investigação oceanográfica e climatológica.
O ministro insistiu ainda que Sines tem o potencial de impulsionar o desenvolvimento económico do país. "Podemos lá ter não uma mas duas Autoeuropas do futuro", frisou.
Costa Silva pormenorizou algumas das suas visões para a cidade do litoral alentejano: "Pode ser um porto ligado e digitalizado a toda a rede portuária internacional, um centro do 'hub' das tecnologias verdes ou um centro de tratamento de dados, devido aos cabos submarinos que existem", explicou.