Em termos de investigação, as armas estão claramente apontadas para melhores e mais rápidos testes diagnósticos e sobretudo para a descoberta de uma vacina.
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Enquanto se aguarda por uma vacina, multiplicam-se os estudos na tentativa de encontrar formas de aumentar a imunidade da população ao novo coronavírus.
Estuda-se, por exemplo, o efeito da vacina BCG na imunidade contra o novo coronavírus. A vacina BCG é a mais utilizada em todo o Mundo. É barata e bastante segura... mas também a vacina mais misteriosa e controversa, com avaliações de eficácia variáveis e com enormes variações em termos de prática de vacinação em todo o Mundo.
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Continua a ser administrada em locais com alta incidência de tuberculose, não com o objetivo de contribuir para o controlo da epidemia global da doença, mas porque os estudos demonstraram que protege as crianças de formas graves da doença. Não tem efeito no controlo da epidemia, uma vez que na maioria dos países, como no nosso, a vacina é administrada uma vez, no nascimento, e é improvável que a sua proteção se mantenha na idade adulta.
O que é interessante nesta vacina é que também é usada como um agente imunomodelador para doentes com cancro da bexiga. É tentador supor que também possa dotar o ser humano da capacidade de se defender contra o novo coronavírus. Mas é preciso cautela e ainda muito estudo... os estudos iniciais eram estudos ecológicos que têm muitas limitações e estão sujeitos àquilo que os epidemiologistas chamam de falácia ecológica. Estes estudos utilizam dados agregados e tentam fazer inferências de nível individual. Por outro lado, o tempo nesta pandemia tem um enorme efeito no número de casos de Covid-19 num determinado país - países que não tinham ontem casos do novo coronavírus hoje já podem ter. Um outro fator a ter em conta é que os países onde se vacina mais com BCG, países mais pobres, com alta incidência de tuberculose, são também aqueles onde a probabilidade do subdiagnóstico da Covid-19 também é maior (menor capacidade diagnóstica). Outro problema dos estudos anteriores tem a ver com um fator de confundimento - a idade. Os países mais pobres são os países mais jovens, onde a consequência da Covid-19 é menor. Muito mais se discute sobre os estudos iniciais que apontavam para o possível benefício da utilização desta vacina para a Covid-19. A boa notícia? Estão em curso estudos bem desenhados no sentido de dar resposta a esta questão.
Até termos novidades fortes e seguras, devemos concentrar-nos em manter as medidas que sabemos serem eficazes: etiqueta respiratória, lavagem das mãos, distanciamento social.
Pneumologista