Há lares onde o reforço da vacina só vai ser dado no final do ano. Atraso causa apreensão. União das Misericórdias compreende critérios das autoridades de saúde.
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A dose de reforço da vacina contra a covid-19 ainda não está a ser administrada em todos os lares. Há várias instituições em que os idosos só receberão a nova toma lá para o final do ano, por o processo de vacinação se ter atrasado devido à ocorrência de surtos. É o caso do lar da Misericórdia de Vouzela.
As regras ditam que só meio ano depois da toma da vacina é que será administrada uma nova dose. Atendendo a esta norma, os utentes da Santa Casa vouzelense só serão inoculados em dezembro e não receberão uma terceira mas sim uma segunda toma. Como todos os idosos do lar contraíram o vírus, as autoridades de saúde, cumprindo o protocolo, administraram somente uma dose da vacina, a 4 de junho, o que quer dizer que só a partir do dia 4 de dezembro é que podem levar o reforço.
O provedor da Misericórdia de Vouzela, Luís Alcides, não esconde a preocupação com este tempo de espera e fala mesmo num "risco" para os seus utentes, alegando que a sua imunidade "cai brutalmente" passado uns tempos.
"Não faz sentido esperarmos 180 dias pela segunda dose, isto é um risco. O primeiro foi terem levado só uma dose de vacina, tomando por pressuposto que os que estiveram positivos adquiriram imunidade. Não tenho dados científicos para saber se estavam imunes", aponta, acrescentando que agora se está a correr um segundo risco ao administrar-se "a segunda dose só seis meses depois".
Controlo de visitas
Com receio de novas infeções, as visitas ao lar da Misericórdia de Vouzela ainda são feitas de forma controlada. Antes, utentes e familiares estavam separados por um vidro e falavam por intermédio de um telefone. Com a redução do número de casos no país, as medidas foram aliviadas, mas apenas ligeiramente. O encontro ainda se faz separado por um vidro, se bem que agora se encontre aberto para que se possa falar. Mantém-se o distanciamento físico de dois metros e o uso de máscara.
União menos preocupada
Já o presidente da União das Misericórdias Portuguesas não contesta os critérios definidos pelas autoridades de saúde para se avançar com uma dose de reforço da vacina apenas seis meses após a última toma. Manuel Lemos entende que essa é uma decisão de quem tem "responsabilidades científicas".
"Não estou, nesta matéria, preocupado; o tempo voa. O que é importante é o Estado avançar com a vacinação e as pessoas, as organizações estarem disponíveis. Não vai haver problemas por aí, acho que vai ser bom", argumenta, salientando que "a terceira dose é algo extremamente positivo", na medida em que deixa as instituições "mais tranquilas" e os idosos mais protegidos contra o novo coronavírus.
Terceira toma, "uma luz ao fundo do túnel"
Vacinação de reforço arrancou a 13 de outubro na região Viseu Dão Lafões
"Eu já levei as outras duas, agora levo esta. Se tiver que morrer, que seja à terceira", afirma, com uma gargalhada, Celeste Costa, de 84 anos, momentos antes de levar a terceira dose da vacina contra a covid-19. A idosa recebeu a toma de reforço ontem, juntamente com os outros 68 utentes do lar do Centro Social e Paroquial de Castelo de Penalva, em Penalva do Castelo. Depois da vacina da gripe, tiveram que aguardar 14 dias para serem de novo picados, agora contra o novo coronavírus.
Noutra sala, já no recobro de 30 minutos, estão outros seniores. Maria Silva, de 83 anos, diz que nem a vacina da gripe, nem a da covid "custaram nada".
Noutro canto da sala, Américo de Silva, 89 anos, olha para o relógio e refere que só faltam cinco minutos para ir à sua vida. "Já levei as três vacinas e estou rijo". O colega do lado, Ilídio Marques, de 78 anos, também não pensou duas vezes em ser vacinado. "A vacina não só nos protege a nós como a todas as outras pessoas", defende.
A diretora técnica do lar concorda. Para Lurdes Ferreira, esta nova dose "representa uma luz ao fundo do túnel e uma esperança". "Apesar de todas as medidas de proteção que implementámos há sempre um risco. Não vamos aliviar as medidas, mas com ela temos uma esperança no futuro", refere. No lar, apenas três utentes não receberam a dose de reforço. Como tiveram covid foram vacinados mais tarde que os restantes e ainda não sabem quando farão a nova toma.
Estudo
Quem teve covid e foi vacinado tem mais imunidade
Um estudo desenvolvido pelo Algarve Biomedical Center e pela Fundação Champalimaud, em estruturas para idosos do Algarve e Alentejo, revelou que as pessoas que tiveram covid e receberam uma dose mantêm imunidade ao longo de mais tempo do que aquelas que foram vacinadas com duas doses e não estiveram infetadas. Quatro meses após a vacinação completa há uma "diminuição abrupta" dos anticorpos.