No cenário de incerteza e medo, nasceu a associação sem fins lucrativos 4 Corações, com projetos de ajuda social.
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São pessoas que tinham emprego, salário assegurado e suficiente para as despesas fixas do mês. De repente, com a crise da trazida pela pandemia da covid-19, vieram os despedimentos, os lay-offs, a redução de salário, e essas famílias, que viviam "a apertar do cinto", veem-se aflitas porque o dinheiro não estica além dos compromissos mensais.
Junto à porta da cozinha da Associação Cultural e Desportiva da Carapalha, em Castelo Branco, já está uma mesa e a lista das pessoas que chegarão com os grandes sacos dos hipermercados e alguns recipientes de plásticos para sair dali com a refeição da noite e o almoço do dia seguinte. Este é o principal projeto social da Associação 4 Corações, ideia de um grupo de amigos em Castelo Branco, para ajudar recém-carenciados, mas que está a crescer noutras cidades e vilas. "Estamos a ajudar pessoas que ainda não enfrentam problemas judiciais ou outros por falta de pagamentos, mas que se veem com dificuldades financeiras para fazer refeições completas", explica o presidente, Hélder Martins.
A primeira cozinha social criada pela 4 Corações, sempre em parceria com estruturas já existentes, foi em Cascais. Seguiu-se Castelo Branco, Torres Vedras, Setúbal. "Estamos para abrir muito em breve em Portalegre, Covilhã e em Faro. Depois, vamos abrir em Gaia, Coimbra e Sertã", refere o coordenador, que garante que o crescimento não vai ficar por aqui até final do ano. A associação tem cerca de 400 voluntários, desde trabalhadores da construção civil a empresários. Já foram distribuídos mais de 100 mil cabazes e outras tantas refeições.
Quatro voluntários preparam duas refeições. As panelas encheram-se com um "strogonoff", batata cozida com uma fritada de carne e sopa de legumes, produtos doados pelo comércio, produtores e cidadãos locais.
Com emprego
Paulo Santos, um dos voluntários, aponta para uma grande bacia onde Cláudia Guedelha, engenheira civil, está a cortar a cebola que vai temperar a salada migada por Joana Rodrigues, de 28 anos, operadora de telecomunicações. Com exceção de Paulo, funcionário de uma empresa de eventos parada, todos os voluntários que ali estão têm emprego.
Duas horas depois, chegam mais voluntários, para encher os recipientes dos beneficiários (sinalizados por duas assistentes sociais) que se aproximam da porta de acesso à cozinha. No saco é ainda colocada fruta e um pacote de cereais. A ajuda vai ser levada à mesa. Ana Costa, 39 anos, desempregada há sete anos, mãe de dois filhos e cujo companheiro está de baixa médica, conta: "Recebo o mínimo da Segurança Social e pouco ou nada resta para pagar renda, água e luz".