Cravinho distinguido: "Integridade é obrigação nunca integralmente satisfeita"
O antigo ministro João Cravinho foi um dos cinco vencedores da segunda edição do Prémio Tágides, que distingue personalidades que se destacaram a promover a integridade e a transparência em várias áreas da sociedade. No discurso de agradecimento, Cravinho referiu que a integridade, a solidariedade e a retidão de caráter são os ingredientes para um país mais transparente. A ex-deputada Helena Roseta, outra das galardoadas, realçou a importância do escrutínio no poder local.
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"Recebo este prémio com o espírito que tenho desde a minha juventude", afirmou João Cravinho na cerimónia, que teve lugar na Fundação Oriente, em Lisboa. O antigo ministro do Equipamento, distinguido na área da "Iniciativa Política", não escondeu a sua "grande satisfação" pelo reconhecimento, procurando destacar a relevância da solidez do "caráter" de cada um no combate pela transparência.
"O pior que um indivíduo na vida pública e privada pode ter é que as suas conveniências estão do lado ou do vencedor ou do conforto", referiu. "A pessoa tem [de ter] princípios. E a única maneira de o afirmar não é dizê-lo, é fazê-lo", reforçou.
Além dessa característica, Cravinho destacou outras duas: por um lado a "integridade" e, por outro, a "solidariedade". Descreveu a primeira como uma "obrigação nunca integralmente satisfeita", considerando, a propósito da segunda, que viveu a vida com "muito mais deveres e responsabilidades do que expectativas de ver satisfeito fosse o que fosse".
Helena Roseta diz que transparência funciona como "auto-defesa"
Helena Roseta, antiga deputada e ex-vereadora na Câmara de Lisboa, venceu na categoria "Iniciativa Local". Considerou a política autárquica "o combate da minha vida", argumentando que "muita coisa se pode fazer" nessa área para aumentar a transparência - nomeadamente publicar o maior número possível de informações online, de modo a estimular o "escrutínio".
"O que temos de fazer quando estamos do lado do poder é sermos o mais transparentes possível", frisou. Esse comportamento, além de "ético", é ainda um bom mecanismo de "auto-defesa" dos decisores políticos: "Se formos transparentes, não há mal que nos venha", argumentou, num discurso em que também agradeceu ao seu pai por lhe ter incutido os valores da "verdade, integridade e decência".
Jornalistas José António Cerejo e Luís Rosa distinguidos
O Tágides distinguiu também dois jornalistas: Luís Rosa, do "Observador" - autor do livro sobre o ex-governador do Banco de Portugal, Carlos Costa - recebeu o prémio na área "Projeto da Sociedade Civil"; José António Cerejo, do "Público" - que noticiou o "adiantamento duvidoso" feito pela Câmara de Caminha, então presidida por Miguel Alves, a um empresário - ganhou na categoria "Projeto de Investigação".
Tanto Luís Rosa como Cerejo dedicaram o prémio a todos os jornalistas. O primeiro destacou o "papel fundamental" do jornalismo na democracia, com o segundo a considerar que esse escrutínio é hoje "cada vez mais difícil", em virtude das "múltiplas crises" que afetam o país em geral e o setor em particular.
Eduardo Figueiredo, professor assistente convidado da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, foi o vencedor na categoria "Iniciativa Jovem". Considerou que os mais novos são frequentemente "subestimados" no que toca ao combate à corrupção: "Não temos de esperar pelo futuro. Esse dia é hoje", referiu.
A organização optou por não atribuir o prémio na categoria "Iniciativa Empresarial", para o qual estavam nomeados Guillermo de Llera e Nuno Moreira. Mário Parra da Silva, membro do júri, justificou a decisão: depois de, no ano passado, o prémio ter sido dado ao empresário Rui Nabeiro, fundador da Delta, a "fasquia" ficou "muito alta".
Este ano, o júri contou com nomes como Manuela Ferreira Leite (ex-ministra das Finanças e da Educação), Álvaro Santos Pereira (ex-ministro da Economia), Joana Marques Vidal (antiga procuradora-geral da República), Maria José Morgado (antiga procuradora-geral adjunta) ou Isabel Jonet (presidente do Banco Alimentar).
Criado em 2021, o Prémio Tágides é dado a quem se tenha destacado no combate à corrupção. É atribuído pela associação All4Integrity, que se propõe lutar pela "promoção de uma cultura de integridade em Portugal".