Das 103 crianças com covid-19 tratadas pela Pediatria do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, entre 11 de março e 18 de junho, apenas dez tiveram de ser internadas e só uma esteve nos cuidados intensivos. As restantes foram acompanhadas à distância pelos clínicos.
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Os menores, dos zero aos 18 anos, foram tratados de acordo com os sintomas, como se "tivessem outra infeção viral", não lhes tendo sido administrado nenhum medicamento antiviral. Os dados pertencem a um estudo que vai ser publicado pela "Acta Médica Portuguesa" sobre o impacto do novo coronavírus nas crianças.
"Tivemos a nossa estratégia baseada sobretudo nos sinais clínicos da criança e atuámos como para outras infeções virais semelhantes, de acordo com os sintomas", explicou ao JN José Gonçalo Marques, um dos autores do trabalho.
O médico adiantou ainda que não foi feito nada de adicional, a estas crianças, pelo facto de terem covid-19. "Não realizámos TAC (tomografia computorizada) a nenhuma. Não usámos nenhum antivírico, porque estavam em estudo, com resultados pouco consistentes e os quadros das nossas crianças não foram graves", disse.
Intitulado "Série de casos de 103 crianças com infeção por SARS-CoV-2 em Portugal", o trabalho é um "estudo observacional descritivo", destinado a uma melhor compreensão sobre a forma de atuar que, de acordo com o clínico, permite "alguma tranquilização".
Febre e tosse
Apenas 20% das crianças acompanhadas no período observado apresentavam sintomas. Febre (registada em 43% dos casos), tosse (26%), cefaleia (18%) e a diarreia (13%) foram os sintomas mais verificados.
"Há muitas crianças com sintomas ligeiros que deixaram de vir ao hospital. E é o que está certo", sublinha o pediatra. No início, prosseguiu, "todos tinham de ser internados para conter" a infeção. Atualmente, "a taxa de internamento é mais baixa do que nos adultos".
O caso mais grave foi o de uma criança de 10 anos com síndrome inflamatória grave. Aí atuámos como para a doença de Kawasaki, com a qual há alguma semelhança e felizmente o tratamento com imunoglobulina, sem mais nada, correu bem", revelou o especialista.
Houve ainda o caso de uma outra criança, de 15 anos, que por ser transplantada renal era imunodeprimida. Mas neste caso o internamento não foi necessário. Apenas um acompanhamento frequente por parte das equipas de nefrologia.
Sintomas
Febre superior a 39º
Há alguns sintomas a que os pais de crianças com covid-19 que não estão internadas devem estar alerta. Um deles é ter febre superior a 39º durante mais de três dias. "Devemos vê-los no hospital, porque pode ser um sinal de complicação. Ou de inflamação por uma bactéria ou de uma síndrome inflamatória", sublinha o médico.
Falta de ar
A dificuldade respiratória é outro dos sintomas a que se deve ter atenção. Com sensação de falta de ar é obrigatório ir ao hospital.
Diarreia
Nos que têm sintomatologia de diarreia é necessário ver se toleram a alimentação ou não. Nos primeiros três meses de vida mais facilmente devem ir ao hospital.