Um novo estudo da Associação Vegetariana Portuguesa quer alertar para o impacto ambiental das proteínas animais e para as leguminosas como uma das soluções da crise climática. O Planeta assinala na quinta-feira, 28 de julho, o Dia da Sobrecarga da Terra.
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Um relatório divulgado esta quarta-feira pela Associação Vegetariana Portuguesa (AVP) aponta o aumento da produção e consumo de proteínas vegetais como parte fundamental da diminuição da pegada ecológica. Segundo o estudo "Plantar a Alimentação do Futuro", a produção de um quilograma de carne de vaca gera cerca de 80 quilogramas equivalentes em CO2. Já no caso de feijão, por exemplo, a mesma quantidade equivale a apenas um quilograma de CO2. A proteína animal, afirma o documento, "representa uma emissão de gases com efeito de estufa cerca de 80 vezes superior" comparativamente às leguminosas.
Além de apresentar dados sobre a pegada ecológica da alimentação praticada em Portugal e na Europa, a AVP considera este um relatório "inédito" por incluir 15 recomendações de políticas públicas para o Governo português. Entre estas estão propostas de inclusão de rótulos informativos da respetiva pegada ecológica nos produtos alimentares, o alívio da carga fiscal para frutas, vegetais e leguminosas e apoios financeiros à investigação científica ligada ao tema, bem como de pequenas e médias empresas produtoras de alimentos mais sustentáveis.
32% da pegada ecológica
Para a AVP, a alimentação é um dos setores em que as soluções para a crise climática são mais urgentes, já que o consumo alimentar, em Portugal, "representa 32% da pegada ecológica nacional", acima da pegada do setor dos transportes e mobilidade, que contribui com cerca de 18%. O relatório assinala ainda que, apesar da criação de animais para consumo humano ocupar cerca de 83% de toda a superfície agrícola do planeta, supre apenas "18% das necessidades calóricas da população e cerca de 37% das necessidades proteicas".
E o impacto da produção de alimentos com origem animal também se reflete na economia. O mesmo estudo dedica um dos capítulos à problematização dos custos da proteína animal, salientando que este é exacerbado pela disparidade de apoios públicos, já que, argumentam, "cerca de dois terços de todos os subsídios agrícolas da União Europeia apoiam a produção animal, direta ou indiretamente".
A AVP desenvolveu o presente relatório dentro do novo projeto "Proteína Verde", com uma equipa de investigadores, técnicos, ambientalistas, economistas e nutricionistas, e num trabalho conjunto da associação ambiental ZERO, do projeto de investigação LeguCon, da Universidade Católica Portuguesa e financiado pela Fundação Gulbenkian, e do laboratório Food4Sustainability, com foco na inovação da produção alimentar sustentável. O objetivo é promover a "transição gradual para uma agricultura e sistema alimentar baseado predominantemente na proteína vegetal, contribuindo para a redução da pegada ecológica e para a mitigação dos impactos das alterações climáticas".
"Plantar a Alimentação do Futuro" é lançado a propósito do Dia da Sobrecarga da Terra, assinalado em todo o Mundo amanhã, 28 de julho. Esta é uma data estimada anualmente pelo Global Footprint Network para marcar o dia em que o planeta esgota todos os recursos naturais que consegue regenerar num ano, passando a "viver" em défice ecológico e a gastar recursos que só deveriam ser utilizados no ano seguinte. Em Portugal, esse marco foi atingido a 7 de maio, seis dias antes do ano anterior.