O CDS-PP inicia, este sábado, um novo capítulo. Ao fim de quase 16 anos, Paulo Portas despede-se da liderança no primeiro dia do congresso, em Gondomar, e passa o testemunho a Assunção Cristas.
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A deputada promete uma "liderança irreverente" de modo a conquistar o Centro, que disputa com o PSD. Para isso, enfrenta um desafio complexo: descolar da imagem de austeridade do último Governo, ao mesmo tempo que procura manter a popularidade e a unidade interna que Portas sempre conseguiu.
Em vésperas do 26.º congresso, o ainda líder deu uma ajuda para recentrar o partido, à semelhança da estratégia que Passos Coelho está a seguir no PSD. "Penso à Direita, mas sempre governei ao Centro. É uma contradição? Não creio", disse Portas anteontem à noite, ao receber o título de militante honorário da JP, em Lisboa. No congresso, intervém ao final da manhã de hoje e Cristas à tarde, quando serão discutidas dez moções globais.
Em janeiro, numa entrevista ao JN, a deputada deixou claro que vai disputar território com os sociais--democratas: "Estive no Governo e vi muitas vezes o CDS ter posições bem mais ao Centro do que o PSD". Passos, que amanhã faz questão de estar presente no encerramento, continua a ser um parceiro natural. Mas sem coligação, que foi desfeita na sequência das legislativas. Cristas diz que o CDS deve ir sozinho a eleições. E, nesta demarcação, pesa o facto de ter proposto alterações ao Orçamento do Estado para 2016, ao contrário do PSD.
Na sua moção, a ex-ministra da Agricultura e do Mar promete uma "solução robusta" de Centro-Direita e uma oposição "firme" ao Governo das esquerdas , mas também abre a porta a consensos com o PS. "O país só progride solidamente com flexibilidade e espírito de cedência" e o CDS rejeita "a lógica permanente da luta, dos ganhadores e dos perdedores", acreditando sim "no diálogo e no consenso como métodos" que trazem resultados no "médio e longo prazos".
Na moção, prevê alargar a ADSE a qualquer trabalhador que queira descontar para este subsistema de saúde e recusa a regionalização.
Na mesma semana em que apresentou a estratégia global, a atual vice-presidente do CDS admitiu um cenário em que o seu partido e o PSD fossem chamados a formar um novo governo com apoio do PS, mas nunca com António Costa.
Listas alternativas podem surgir
Internamente, marcou a diferença face a Portas ao prometer mais trabalho de equipa. Porque as hostes preferiam Nuno Melo, Cristas tenta ser vista como mais do que uma líder de transição. É a única candidata. Mas podem surgir listas alternativas para os órgãos dirigentes que são eleitos amanhã, nomeadamente para o Conselho Nacional, pela mão dos apoiantes de Melo ou de Filipe Anacoreta Correia.
A ex-ministra procura agora um equilíbrio, com a renovação parcial dos órgãos e a manutenção de alguns dos sete vice-presidentes, cujo número quer reduzir. Melo e Diogo Feio serão "vices" a manter, tal como o líder parlamentar, Nuno Magalhães. Há dúvidas sobre João Almeida e Pedro Mota Soares, enquanto Artur Lima e Teresa Caeiro estarão de saída. Pedro Morais Soares é falado para secretário-geral.