Centro de reabilitação de animais marinhos, na Gafanha da Nazaré, trata de cetáceos, tartarugas e aves que deram à costa.
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A cada momento que nos aproximamos, ela vai para o outro lado, no sentido oposto ao que nos encontramos. Na piscina grande e azul, uma pequena tartaruga marinha nada e tenta ganhar peso e força para depois voltar à sua verdadeira casa, o oceano. É um dos animais que estão a ser reabilitados pelo Centro de Reabilitação de Animais Marinhos (CRAM) do ECOMARE, da Universidade de Aveiro, localizado na Gafanha da Nazaré.
"O ideal é que não se habitue a ter muita gente ao seu redor" para não criar dependência com um ambiente que não é naturalmente o seu, diz Catarina Eira, diretora da unidade do centro de pesquisa e reabilitação de animais marinhos do ECOMARE. Foi encontrada por um pescador e tinha cortes no pescoço e na barbatana. Não será libertada tão cedo.
Naquele edifício da Universidade de Aveiro está localizado não só o centro de reabilitação, como laboratórios de investigação, que permitem perceber porque é que determinadas espécies arrojaram e quais as maleitas de que padeciam quando deram à costa. "Recolhemos muita informação sobre as ameaças das populações de animais marinhos", diz a responsável.
A pequena tartaruga marinha, que foge da vista de quem a tenta ver mais de perto, não está sozinha neste "hospital". A ela juntam-se aves marinhas e também cetáceos, como golfinhos ou botos. Quando o JN visitou o CRAM, não havia, porém, animais de grande porte em tratamento. A lista de pacientes altera-se consoante os arrojamentos que ocorrem e aos quais é preciso dar resposta.
Plástico no corpo
Uma gaivota e um ganso-patola partilham a mesma divisão que a tartaruga marinha. Cada um no seu devido espaço a tentar recuperar de algum apuro que lhe aconteceu. "Temos alguns casos de aves migradoras, cuja distribuição não deveria permitir que elas chegassem à nossa costa", explica Catarina Eira. O mesmo acontece com as focas, que em momentos de tempestade ou por falta de alimento, arrojam nas praias.
Mas é sobretudo a chegada de animais mortos ao areal, o que acontece em "90% de casos", que possibilita a recolha de informação científica e lança pistas sobre o futuro da biodiversidade. Num dos gabinetes do ECOMARE, numa caixa de vidro, vê-se uma variedade de sacos de plástico encontrados no estômago de um cachalote. Os investigadores recolheram também outras amostras de lixo.
"Conforme a época do ano, há muitas aves com sintomas compatíveis de intoxicação por biotoxinas, o que pode ter a ver com o aquecimento dos oceanos", esclarece a também professora universitária.
Apesar da quota-parte de responsabilidade dos humanos na produção de lixo nos oceanos, uma das responsáveis do CRAM revela que os registos de arrojamentos são cada vez "mais frequentes", graças aos alertas da população. Contudo, nem todos os animais conseguem ser salvos.