Há quem não dispense a ida diária à horta urbana da Quinta da Armada, mesmo à chuva.
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Deolinda Carvalho, com 54 anos, é filha de pais lavradores, mas desde que casou, há 30 anos, e foi viver para a cidade de Braga, deixou de mexer na terra. O contacto com o mundo rural regressaria apenas em 2016, altura em que a Junta de S. Victor abriu as portas da horta urbana da Quinta da Armada. Nesse ano, Deolinda estava desempregada e, além de uma ocupação, deixou de gastar tanto dinheiro com legumes, hortaliças, fruta ou até ervas aromáticas. É que naquele pequeno talhão, nasce de tudo.
"Temos tomilho, orégãos, cebolinho, alecrim, moranguinhos, couves, coração, penca, alho-francês, brócolos e até conseguimos dez quilos de batata-doce", descreve Deolinda, orgulhosa do terreno que vai plantando com a ajuda do marido, Carlos Costa, "que não percebia nada, porque era da cidade", mas agora é o primeiro a ir à Internet pesquisar "algumas coisas, como o período das gestações".
"O ano passado, a cebola que tirei durou muito tempo. Eu nem sabia o preço da alface, porque não precisava de comprar", admite a beneficiária. Noutro talhão, Manuel Correia, com 71 anos, atesta que, "ao fim do mês, nota-se no orçamento familiar" a poupança que faz com as plantações. "Tiro daqui uma penca que no supermercado custa meio euro", exemplifica o septuagenário, natural de Tondela, mas a viver em Braga há quase 50 anos.
"Isto é uma ocupação, mas não só. Tenho duas filhas e quatro netos, e colho aqui muita coisa para mim e para elas. Os meus netos andaram quatro meses a comer tomates, que adoram", acrescenta Manuel, reforçando que, todos os dias, "mesmo com chuva", vai ao seu talhão, porque também funciona "como uma terapia".
Ao todo, a horta urbana da Quinta da Armada conta com 55 talhões, que estão sempre ocupados. À espera de vez estão 30 moradores de S. Victor, assume o presidente da Junta, Ricardo Silva, que quer "encontrar um segundo terreno na zona de Santa Tecla" para alargar o projeto na freguesia. "A horta foi criada com três propósitos, nomeadamente, ajudar a economia familiar de pessoas em situação de desemprego, permitir aos reformados terem uma postura de vida ativa e ser um descompressor social para quem não tinha vontade de sair de casa", resume o autarca local.