Da matriz de risco às restrições: a reação dos partidos à reunião no Infarmed
Para o PSD, é fundamental incluir mais variáveis na matriz de risco. O PS alerta para a saturação do confinamento e o Partido Ecologista "os Verdes" pede que não se recue no desconfinamento. CDS culpa Medina e Cabrita por "agravamento da situação em Lisboa".
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O PSD defendeu esta sexta-feira a introdução de mais variáveis na matriz de risco, embora concorde com os especialistas que se devem manter como "indicadores base" a incidência acumulada de casos de covid-19 e o índice de transmissibilidade (Rt).
"A posição dos especialistas é sensata, mas temos de incluir outras variáveis, como a vacinação, a positividade dos testes, ou a ligação epidemiológica entre os casos", defendeu o deputado e vice-presidente da bancada do PSD Ricardo Baptista Leite.
O deputado e medido falava aos jornalistas no Parlamento, após a 21.ª sessão com especialistas sobre a situação da covid-19 em Portugal, na qual os partidos participaram por videoconferência.
"Saímos com a mesma convicção com que entrámos: é fundamental tudo fazer para salvar o verão e preparar o inverno", afirmou, defendendo que a "melhor arma" para avançar para uma vivência endémica do vírus é continuar a apostar na vacinação.
PS alerta para saturação do confinamento
O secretário-geral adjunto do PS salientou, por sua vez, a redução substancial dos casos graves de covid-19, defendeu a abertura de setores económicos alvo de limitações e advertiu para a "saturação" da população perante medidas de confinamento.
Estas posições foram transmitidas por José Luís Carneiro, que destacou os indicadores que apresentam uma redução da incidência da covid-19, com uma descida acentuada dos internamentos hospitalares e do número de óbitos, ao mesmo tempo que o plano de vacinação "está a decorrer melhor do que o previsto".
"Inicialmente previa-se que no final de setembro se teria 70% da população imunizada, mas é possível verificar que na primeira quinzena de agosto, caso tudo continue a decorrer como até aqui, poderemos atingir essa meta dos 70% com a primeira toma da vacina", referiu.
De acordo com o "número dois" da direção do PS, por causa da eficiência da vacinação, "é possível libertar agora outros setores da economia, nomeadamente nas áreas do comércio, restauração e turismo".
"É possível não apenas libertar setores da economia, que estavam a ser objeto de limitações, como também se poderá atuar em setores muito específicos que ainda não foram abrangidos pela campanha de vacinação", disse, aqui numa alusão a bolsas de idosos ainda não vacinados, assim como doentes acamados, grupos com comorbilidades graves e comunidades geograficamente isoladas.
Após estas referências, José Luís Carneiro deixou então uma mensagem mais política sobre um dos riscos que se enfrentam em termos sociais na atual conjuntura.
"Um dos riscos tem a ver com o cansaço e com os efeitos nocivos do confinamento ao nível da saúde mental. Com o aumento do cansaço do confinamento são também menos eficazes as medidas de confinamento", frisou o secretário-geral adjunto do PS.
Apesar de não ter dado a sua opinião sobre a manutenção ou não dos atuais valores inerentes à matriz de risco, o ex-secretário de Estado defendeu que "é preciso haver consciência coletiva que os níveis de confinamento atingiram alguma saturação no conjunto da população, com efeitos nocivos do ponto de vista da saúde pública".
"É um risco que é necessário acautelar ao fim de quase 15 meses de confinamento", acentuou.
Verdes pedem que "vida continue"
O Partido Ecologista "os Verdes" defendeu que é preciso continuar a "testar, isolar e vacinar" e que Portugal não pode dar "passos atrás" no desconfinamento, porque "a vida precisa de continuar".
"'Os Verdes' consideram que não podemos dar passos atrás, temos de continuar neste desconfinamento. Para isso, é necessário planear, a vida precisa de continuar, seja em termos culturais, desportivos, seja nos locais de trabalho, sempre com regras para que possamos estar protegidos e enfrentar este vírus com segurança", defendeu a deputada Mariana Silva.
Sublinhou ainda que o partido "valoriza as reuniões do Infarmed", sobretudo numa altura em que é necessário "dar algumas explicações aos portugueses".
"Sabemos que o vírus continua connosco, precisamos de continuar alerta para as suas mutações e continuar a ter como prioridade o que tivemos até agora: testar, isolar e vacinar", defendeu.
A deputada ecologista defendeu, por outro lado, o reforço do Serviço Nacional de Saúde como "essencial" para recuperar todos os cuidados não covid, mas também para apoiar as pessoas que tiveram a doença e ficaram com sequelas, e reforçar a saúde mental.
"É necessário ajudar as empresas para garantir os empregos, garantir os direitos dos trabalhadores. É necessário que a vida continue, de forma que possamos recuperar e não dar passos atrás", afirmou.
PCP contra manutenção das medidas restritivas
A deputada do PCP Paula Santos considerou que, com o avanço da vacinação e a diminuição de internamentos e mortes por covid-19, não há nenhuma justificação para se manter "medidas restritivas".
Em declarações aos jornalistas, na Assembleia da República, Paula Santos ressalvou, no entanto, que o PCP é pelo "cumprimento das recomendações por parte da Direção-Geral da Saúde (DGS)" que sejam consideradas necessárias para se "retomar as atividades económicas, sociais, culturais e desportivas em segurança".
A deputada do PCP sustentou que "está comprovada a taxa de efetividade da vacinação" e que "o impacto positivo da vacinação está também visível num conjunto de indicadores, nomeadamente na redução da incidência de novos casos nas pessoas mais de 80 anos, na redução das hospitalizações incluindo os cuidados intensivos, na redução da mortalidade".
Questionada se para o PCP todas as "medidas restritivas" devem ser retiradas ou algumas devem manter-se, Paula Santos repetiu que há que cumprir somente "as recomendações da DGS, que são medidas gerais de proteção de saúde pública, para o desenvolvimento de cada uma das atividades", sem dar exemplos concretos.
"A epidemia não se combate com restrições nem com limitação de direitos e liberdades", declarou.
CDS-PP responsabiliza Medina e Cabrita por "agravamento da situação em Lisboa"
O CDS-PP acusou esta sexta-feira o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, e o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, de uma "enorme irresponsabilidade" quanto aos festejos do Sporting, considerando que levaram ao "agravamento da situação" pandémica.
"O agravamento da situação em Lisboa exposto hoje na reunião do Infarmed revela que foi uma enorme irresponsabilidade de Fernando Medina e de Eduardo Cabrita o modo como planearam os festejos futebolísticos na cidade", afirmou a porta-voz centrista num vídeo de menos de um minuto, enviado à comunicação social no final da 21.ª sessão com especialistas sobre a situação da covid-19 em Portugal, na qual os partidos participaram por videoconferência.
Cecília Anacoreta Correia sublinhou igualmente que "os dados positivo acerca da vacinação mostram que é muito importante as pessoas aproveitarem as oportunidades de tomar a vacina", alegando que "é realmente o modo mais eficaz de se protegerem".
Apontando que o CDS está preocupado com a saúde mental dos portugueses, a democrata-cristã defendeu ainda que "a resposta pública não pode ficar-se pela existência de uma linha de atendimento telefónico que é paga".
Na ótica do CDS-PP, "é preciso que todos tenham acesso a consultas de psicologia para adultos e para crianças nos centros de saúde" e criticou que "o Governo parece ser autista a esta reclamação insistente" do seu partido.
PAN pede preparação do plano outono/inverno e atenção à saúde mental
O partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) pediu hoje ao Governo que prepare, desde já, um plano para lidar com a covid-19 no próximo outono/inverno, e apelou a uma maior atenção à saúde mental.
"O PAN tem sempre defendido quer o planeamento, quer a prevenção: a partir deste momento, o Ministério da Saúde deve começar a planear a estação outono/inverno, ainda não sabemos qual será a imunidade da vacina", alertou a deputada Bebiana Cunha.
Por outro lado, a deputada do PAN defendeu que o plano de desconfinamento "deve estar sempre assente nas evidências científicas atuais e não numa calendarização antecipada".
"É evidente que atravessamos ainda uma crise sanitária e continuam a ser fundamentais as respostas das equipas de saúde pública, que saudamos pela localização das infeções e pelo rastreamento", apontou, salientando a sua importância "sobretudo nas novas estirpes" da doença.
Bebiana Cunha chamou ainda a atenção para os impactos da crise sanitária, quer do ponto de vista socioeconómico, quer da saúde mental, que "não pode ser relegada para um plano secundário".
"Em Portugal, a saúde mental tem sido um parente pobre da saúde em geral, temos tido um investimento muito parco", referiu, lamentando que, apesar de ter sido aprovada em 2018 uma proposta do PAN para a integração de 40 psicólogos no Serviço Nacional de Saúde, os concursos ainda não estejam concluídos.
BE de acordo com a manutenção da matriz de risco
O BE defendeu hoje a manutenção da matriz de risco de covid-19 que existe atualmente para que haja "uma boa comunicação com a população", concordando com a possibilidade de novas fases de desconfinamento onde a pandemia está controlada.
"Manter a matriz é importante para ter uma comunicação que é consistente com a população e, como nós temos reparado ao longo desta pandemia, a comunicação é mesmo fundamental para que a população consiga também perceber as regras que estão em causa, as consequências daquilo que são as incidências em determinados momentos", defendeu o deputado Moisés Ferreira.
"Isso não quer dizer que não possa haver novas fases de desconfinamento. Deve haver, na nossa perspetiva e na nossa opinião. Se em determinado momento e se em determinado local a pandemia está controlada, então pode-se avançar no desconfinamento", apontou.
IL acusa Governo de ser incompetente e lento na reabertura
A Iniciativa Liberal acusou hoje o Governo de ser incompetente e lento na reabertura gradual das atividades encerradas devido à covid-19, dando como exemplos os eventos desportivos, espetáculos culturais e a retoma dos horários normais da restauração.
"Nós estamos a assistir a maior número de casos, mas sem uma pressão no sistema de saúde e, portanto, é possível manter aqui um equilíbrio", considerou Carla Castro.
A dirigente da Iniciativa Liberal assinalou que "os indicadores de mobilidade estão em níveis quase de pré-pandemia", e defendeu: "As pessoas estão a sair à rua, é altura então também de as políticas acompanharem esta coerência e esta responsabilidade das pessoas".
"Também foram as pessoas, quando viram que precisavam de recolher, que recolheram antes das medidas do Governo. Portanto, as pessoas são responsáveis, as pessoas sabem o que estão a fazer", sustentou, insistindo que é tempo de "diminuir restrições e retomar liberdades".
Por outro lado, segundo a dirigente da Iniciativa Liberal, "os horários na restauração são incompreensíveis". No seu entender, deve "haver um gradualismo, não faz sentido passar de zero a cem", mas o ritmo do plano do Governo é "muito lento".
"Não há espetáculos na medida em que deveria acontecer, atividades ao ar livre que deveriam ser permitidas", acrescentou.
Chega apela ao Governo que não recue no desconfinamento e aumente testagem
O deputado único do Chega, André Ventura, apelou ao Governo para que não recue no processo de desconfinamento, apontando para a importância do aumento da testagem à covid-19, principalmente em Lisboa.
"Neste momento, o país não pode voltar atrás no desconfinamento: as receitas provenientes do turismo, da abertura da economia, da restauração, dos serviços, do pequeno comércio, têm que se manter. Esses rendimentos são fundamentais para conseguirmos sustentar a economia neste momento e num eventual período de novas dificuldades que possa vir no outono e no inverno", sustentou o presidente do Chega, num vídeo enviado à imprensa.
André Ventura apontou que, "apesar do aumento da incidência em algumas zonas do país, como de algumas freguesias do centro de Lisboa, em geral, há um decréscimo de dados muito importantes: o número de internamentos, o número de mortes por covid-19 e a própria transmissibilidade".
Apelando a que o Governo "não pense sequer em qualquer regresso ao confinamento durante este período", Ventura destacou a situação de Lisboa, "que é um vetor fundamental por ser a capital do país", apontando que a cidade receberá muitos turistas nos próximos meses de verão.
"É importante aumentar a testagem, aumentar rapidamente a vacinação, para que os vários segmentos e as várias faixas etárias possam acompanhar este processo de desconfinamento, mas sobretudo os testes: se o Governo quer manter as principais capitais, as principais cidades do país abertas ao turismo, ao desenvolvimento económico, à interação, à receção de turistas, à reabertura de negócios que estavam fechados durante o período de confinamento, é importante que a testagem aumente, e muito", sublinhou.
Para o deputado único do Chega, existem condições para o desconfinamento atual "assim o Governo permita". "Penso que ficou claro nesta reunião no Infarmed que temos condições para fazer este desconfinamento, assim o Governo permita, e evite ideia peregrinas, que destroem a economia, que aumentam o desemprego e que não vão resolver problema de saúde pública absolutamente nenhum", rematou.