Os acordos para a reformulação dos produtos alimentares celebrados com a indústria permitiram reduzir 25,6 toneladas de sal e 6256 toneladas de açúcar a um conjunto de alimentos entre 2018 e 2021. Metade das categorias já atingiram ou ultrapassaram as metas definidas até ao final deste ano. As negociações para alargar a mais produtos começam em breve.
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O relatório do Progresso da Reformulação dos Alimentos em Portugal 2018-2021, que está a ser apresentado esta tarde de terça-feira, em Lisboa, revela que as pizas e os cereais de pequeno-almoço estão menos salgados do que há três anos.
Nas primeiras, o teor de sal caiu 22,3% desde 2018, bem acima do objetivo de redução de 10% até ao final deste ano; nos segundos, a redução foi de 14,5%, também acima da meta. Na categoria das batatas fritas e outros snacks salgados, o teor de sal baixou 7,1% em 2021 face a 2018, aquém da meta.
Estes são alguns dos resultados alcançados, na sequência de um acordo assinado, em maio de 2019, entre a Direção-Geral da Saúde (DGS), o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) e a Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares (FIPA), que estabeleceu um compromisso alargado para a reformulação dos teores de sal, açúcares e ácidos gordos trans em diferentes categorias de produtos alimentares.
Foram definidas metas de redução do teor daqueles nutrientes considerados nocivos para a saúde (menos 10% na maioria dos casos) e criado um plano de monitorização de resultados.
Salvar centenas de vidas por ano
Para Maria João Gregório, diretora do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS) da Direção-Geral da Saúde, a "evolução é bastante positiva" com uma redução global média de 11% no sal e no açúcar.
O consumidor praticamente nem nota, mas a redução do consumo de sal e açúcar tem um impacto significativo nas doenças crónicas, em particular na hipertensão e na diabetes, bem como na mortalidade. Num país em que se consome muito mais sal e açúcar do que o recomendado, há centenas de vidas por ano que podem ser salvas se todas as metas de redução do acordo forem cumpridas.
A monitorização dos produtos vendidos em supermercados e hipermercados foi feita por uma empresa independente. Os resultados indicam que os refrigerantes são os campeões da redução de açúcar (menos 16,5% em 2021 face a 2018), o que poderá estar também relacionado com o imposto sobre as bebidas açucaradas que, além de induzir novos comportamentos, motivou a indústria a alterar os seus produtos.
Na categoria dos leites achocolatados foi atingida a meta de redução de 10% do teor de açúcar e na dos iogurtes e queijos com sabor também (-9,7%). Mas ainda há caminho a fazer nos néctares, que até aumentaram ligeiramente o teor de açúcar (0,2%) face a 2018 (mas têm uma meta mais alargada até 2023), nos cereais de pequeno-almoço (que reduziram apenas 2,1%) e no leite fermentado (5,2%).
Relativamente aos ácidos gordos trans presentes nas gorduras industriais para o fabrico de produtos alimentares, nomeadamente pastelaria, a meta definida para 2019 - menos de 2 gramas por 100 gramas de gordura - já foi alcançada. Para tal, contribuiu a regulamentação europeia de abril de 2021, que proibiu os fabricantes de irem além daqueles valores.
O prazo para se atingirem os objetivos no que toca aos teores de sal e açucares ainda não terminou e Maria João Gregório acredita que ainda há tempo para mudanças. "Temos a convicção de que nas categorias em que a redução está a ser mais lenta vão acelerar o processo para cumprir as metas definidas", referiu, em declarações ao Jornal de Notícias.
Alargar aos queijos, charcutaria e alimentos para bebés
A responsável do PNPAS lembra que muitos destes produtos têm agora menos sal e açúcar, mas em média ainda têm quantidades elevadas, o que significa que é necessário continuar o trabalho e definir novas metas.
Segundo Maria João Gregório, o objetivo é alargar o plano aos queijos e charcutaria, às bolachas e biscoitos e aos alimentos dirigidos aos bebés e crianças pequenas.
"Vamos iniciar o diálogo para a introdução de novas categorias em breve, mas não sei se conseguiremos formalizar o novo compromisso ainda em 2022", afirmou, reconhecendo o esforço e o empenho da indústria alimentar no processo, que implica uma aposta na inovação para desenvolver novas fórmulas.
A diretora do PNPAS salientou ainda a preocupação de que o processo seja gradual para promover a adaptação do consumidor.