Das PPP da saúde à "selva" na habitação, não houve terreno comum entre Montenegro e Mortágua
O líder do PSD e a coordenadora do BE protagonizaram um debate algo crispado, no qual sobressaíram as diferenças entre os partidos. Luís Montenegro acusou Mariana Mortágua de defender políticas que "agravam a pobreza"; a bloquista disse que o PSD protege os privados na saúde e promove a "selva" na habitação.
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"O BE é cúmplice de seis anos de governação de braço dado com o PS", afirmou Luís Montenegro, esta terça-feira, no debate da TVI/CNN, enquanto se debatia saúde. Acusando a bloquista e o seu partido de viverem "obcecados com o Estado", o social-democrata frisou que o que importa é promover políticas que se preocupem "com o cidadão", independentemente de o prestador do serviço ser público ou privado.
Por seu turno, Mariana Mortágua acusou Montenegro de não fazer "a mínima ideia de como se resolvem os problemas na saúde" e, também, de não apresentar contas que sustentem o que pretende fazer. Alegando que as políticas da Aliança Democrática iriam "pôr o privado a retirar médicos do público", contrapôs que a solução para estes profissionais tem de passar pela aposta num regime de exclusividade.
As parcerias público-privadas (PPP) na saúde foram outro foco de discórdia. Montenegro argumentou que os hospitais que operavam neste regime "funcionavam melhor" e "sem urgências fechadas", Mortágua referiu que os relatórios do Tribunal de Contas dizem que nenhum hospital subiu de nível depois de passar para o estatuto de PPP. O líder do PSD contestou essa leitura dos dados.
Habitação: do "castigo fiscal" à reunião com a "oligarquia de Putin"
O debate passou depois para a habitação, um dos temas-bandeira do BE. Como tal, Mariana Mortágua jogou ao ataque: pegando em dados sobre o alto preço das casas no Funchal - governado pelo PSD -, acusou o seu interlocutor de defender apenas "uma política de especulação e a selva no arrendamento".
Por seu lado, Montenegro argumentou que tabelar preços na habitação, como pretendem os bloquistas, "é o que leva a que não haja oferta" e faz "subir" os preços. "O que não funciona é pagar 1500 euros num T1 em Lisboa", respondeu Mortágua.
O líder laranja propôs "facilitar" a vida aos investidores, nomeadamente diminuindo o "castigo fiscal". Defendeu ainda os subsídios ao arrendamento para jovens e a aposta no investimento público.
Já a bloquista propôs que a Caixa Geral de Depósitos baixe o "spread" em 1,5% em todos os créditos, garantindo que a medida é sustentável. Responsabilizou o PSD por ter tomado medidas que expulsaram os idosos das suas casas - recordou o "pânico" e "sobressalto" da sua avó "ao receber a carta do senhorio" - e, no que toca a "vistos gold", acusou os sociais-democratas de, quando foram Governo, terem ido à Rússia "reunir com a oligarquia de Putin" para assegurar fundos que "descaracterizaram" Lisboa e Porto.
No entender de Luís Montenegro, as propostas do BE não são mais do que um "sonho de baixar os preços [da habitação] quase por magia". O social-democrata reiterou que os investidores têm de ver garantida a sua "rentabilidade"; caso contrário, sustentou, "não há mercado" de habitação e os preços sobem.
15º mês livre de impostos: "engodo" ou "folga" para a classe média?
A fechar, ainda se discutiu brevemente a proposta da CIP - que originou uma semelhante do PSD - para a criação de um 15º mês livre de impostos. Mariana Mortágua disse que a medida é mais um dos "engodos" sociais-democratas, argumentando que o reforço dos rendimentos deve ser feito através da subida dos salários. Além disso, vincou que a proposta faria o Estado "abdicar de uma receita fiscal".
Montenegro defendeu que a criação do 15º mês visa "dar folga à classe média", estancar a fuga de jovens do país e "premiar a produtividade". Acusou o BE de defender a implementação de "altíssimos impostos" - o que, argumentou, "comprime a capacidade de um país criar riqueza" e pagar melhores salários. Dito isto, rematou: "O resultado da sua política é o agravamento da pobreza".
O próximo debate em que Luís Montenegro participa é apenas no sábado, com Paulo Raimundo (CDU). Está marcado para as 20.30 horas e terá transmissão na RTP 1. Mariana Mortágua enfrenta Rui Tavares (Livre) já esta quinta-feira, às 18 horas, na SIC Notícias.