Encontrar um local para deixar os animais nas férias é cada vez menos um problema e motivo para abandono. Pelo país, multiplicam-se os serviços e hotéis preparados para os receber.
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Marta Sousa e Francisco Mata, naturais de Lisboa, decidiram criar, em 2017, uma plataforma online com milhares de cuidadores de animais. Também na capital, Íris Lourenço lançou a Cãopreensão, que permite estadias de cães em casa de colaboradores. No Porto, Rosa Vieira, da Happy Tails, desloca-se às moradias dos clientes e, no Algarve, no Hotel do Cão, os hóspedes têm acesso a uma praia privada.
Marta Sousa diz que já serão perto de cinco mil os cuidadores que fazem parte da comunidade da Zoowish, "uma espécie de Airbnb" onde as pessoas podem encontrar estadias familiares para cães e gatos ou serviços ao domicílio durante a ausência dos donos (petsitting).
"A estadia é muito indicada para os cães, porque mantêm as rotinas dos passeios e brincadeiras. O petsitting é mais aconselhado para gatos", refere a fundadora da plataforma, sublinhando que os cuidadores passam por um processo de validação. Depois, os próprios tutores podem submeter avaliações sobre a prestação de serviços.
Marta Sousa não se lembra de haver "tanta procura como este verão". Já não tem resposta para a região de Lisboa e são poucas as soluções para o resto do país. Na Cãopreensão, Iris Lourenço também fala "de muita procura" e as casas dos colaboradores estão já lotadas para este mês e o período de Natal.
Apesar de já estar habituado a uma época alta cheia, a adoção de animais de companhia durante a pandemia e a atual liberdade para viajar é uma das justificações que Fernando Vilaça, da Nortdog, encontra para uma procura crescente, este ano.
Miguel Maia Costa assume que "já recusa inscrições" para o Hotel do Cão, em Portimão. Ali, há serviços de luxo para caninos e felinos, como a "única praia privada do país", vigiada por tratadores que brincam com os hóspedes. Depois, o hotel tem quartos climatizados e mobilados, com sofá, cama e televisão, "como se estivessem no conforto de casa", elucida o diretor-geral.
Abandono no verão
Além de serviços especializados, são cada vez mais os locais preparados para receber animais, sejam praias ou alojamentos convencionais. Apesar disso, os números do abandono não param de crescer, com "picos no verão", admite Rodrigo Livreiro da Animalife, organização que recentemente lançou uma campanha de sensibilização.
"Numa situação em que todos os preços sobem e as pessoas têm cada vez menos poder de compra, fazer férias já é um investimento. Não tendo nenhum familiar ou amigo, as pessoas têm de pensar que é um custo extra, deveria fazer parte do orçamento das férias", alerta Irina Antunes, da Sociedade Protetora dos Animais.
"Um processo de adoção ou compra de animal deve ter um grande acompanhamento. Deve olhar-se às características do agregado familiar e a um conjunto de questões, como se os moradores do prédio permitem ou têm outros animais", exemplifica Rodrigo Livreiro.
No último ano, de acordo com os dados do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), 43 434 animais foram recolhidos pelos Centro de Recolha Oficiais, mais 17 960 do que em 2020. Ao JN, o ICNF justifica, contudo, que "o aumento do número de animais recolhidos prende-se com o aumento da capacidade de alojamento" e "não necessariamente com maiores taxas de abandono".