A opinião de António Costa Pinto e Miguel Rodrigues sobre o embate entre os líderes do PS e do PSD desta quinta-feira à noite.
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António Costa Pinto, politólogo
Um bom debate não faz uma vitória
A incerteza vai dominar estas legislativas que surpreenderam a sociedade portuguesa e a própria classe política.
À direita, o PSD foi apanhado de surpresa em mais um desafio ao líder e os restantes partidos em processo de consolidação. À esquerda, se não houve surpresa das direções partidárias do PCP e do BE, houve certamente do eleitorado, que não gostou do facto.
Nesta conjuntura, ainda que as sondagens apontem para um quadro eleitoral com poucas mudanças, vale a pena sublinhar que o que parece não será. De facto, ao consagrar a fragmentação partidária à direita, tornou os dilemas de uma vitória do PSD mais próxima dos do PS, em tensão com os parceiros que o derrubaram. Este debate foi importante.
António Costa foi finalmente obrigado a esclarecer que, se ganhar, logo se vê, citando mesmo António Guterres, sem mencionar que voltaria a procurar acordos à esquerda. Rui Rio tem sido sempre mais claro nas suas alianças.
António Costa apontando as contradições discursivas do passado de Rio e este mantendo com coerência a crítica e as alternativas de centro-direita, deixando o liberalismo para a IL.
Costa brandiu o bom passado e o Orçamento (rejeitado) que entrará imediatamente em vigor se formar Governo. Rio conseguiu apresentar as suas propostas, do SNS aos impostos, ou aos sistema judicial, com António Costa a tentar encostá-lo a uma direita onde ele não encaixa.
Quem ganhou? Para o eleitorado de centro-direita, Rui Rio esteve bem, mas os debates, sobretudo em legislativas, são uma migalha nas atitudes eleitorais?
Miguel Rodrigues, professor na U. Minho
O dia mais esperado
Finalmente, o debate entre PS e PSD. De um lado António Costa, a quem as últimas campanhas não correram bem, mas que se tem revelado sério, incisivo e mais bem preparado. Do outro, Rui Rio, embalado por vitórias internas, mas a quem os debates não têm corrido na perfeição, culpa da sua personalidade genuína, sem filtros, para o bem e para o mal. De um lado Costa, mais interessado em jogar à defesa, mais preso a programas e orçamentos. Do outro Rio, com a necessidade absoluta de apresentar e vender as suas ideias ao eleitorado.
A questão da governabilidade ficou finalmente resolvida. António Costa, pressionado, assumiu poder governar "à Guterres" ou estar a sonhar com uma boa votação do PAN. Na fiscalidade e na economia, Costa apostou na tática de "money in the bank", ou seja, na certeza e confiança da sua governação. Rio apostou na sua visão de futuro do país, assente numa alteração do modelo económico. Em termos de salário mínimo, Costa defende a necessidade de garantir o reequilíbrio da repartição da riqueza. Rio prefere deixar essa negociação à produtividade. Na saúde e segurança social, o debate mostrou as diferenças entre os candidatos e o papel que eles reservam ao Estado.
Foi um debate esclarecedor quanto ao posicionamento de cada candidato. Rio começou melhor, mas Costa foi equilibrando. Fica a perceção de que Rio teve um melhor desempenho, mas aquém do que precisava.