Analistas destacam que a falta de novidades poderá tornar os “duelos” políticos pouco apelativos.
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Os debates regressam em força para as legislativas, com nova maratona de 30 confrontos televisivos. Numa abordagem à sua eficácia, Jorge Afonso Morgado, especialista em comunicação política, referiu ao JN que a TV “é de longe o melhor canal para chegar ao maior número de eleitores”. Também o politólogo José Palmeira destacou a amplitude de audiência, numa comunicação “sem filtros”. Mas prevê que os debates - que arrancam a 8 de abril - não serão tão decisivos para os eleitores como foram em 2024, quando Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos se estrearam na corrida a primeiro-ministro.
“Uma campanha política tem 90% de convicção, mensagem dirigida e repetição de conteúdos”, começou por sublinhar Jorge Afonso Morgado. E “a televisão, por força das evidências e das audiências, é a grande ferramenta de comunicação de massas”.
Diferentes plataformas
“Logo, e os shares dos debates confirmam isso, é de longe o melhor canal para chegar ao maior número de eleitores. Para mostrar convicção, passar a mensagem e repetir. Quanto mais debates, mais repetição. Se a mensagem é boa e passa bem, nunca há nada a perder. Pelo contrário”, disse ao JN.
Além disso, “televisão é televisão, mesmo que não se ligue o aparelho”. “Não interessa se vemos no youtube ou no tiktok, se assistimos no ecrã do computador ou no telemóvel, em direto ou passado alguns dias. Podemos receber o mesmo conteúdo, o mesmo debate ou partes por uma imensidade de canais e não deixa de ser televisão, mensagem e debate político”, defendeu ainda o especialista.
Quanto aos “outros formatos de campanha, seja nas redes sociais, em contacto direto e presencial, em ações de rua mais participadas”, nota que “visam sempre passar mensagens, mostrar convicção e multiplicar contactos”. Ou seja, “chegar ao maior número de pessoas e repetir a boa nova”. Neste quadro, crê que “não há nenhuma oposição entre formatos. O que deve antes existir é uma complementaridade de formatos e de canais para massificar contactos, tocar vários públicos e conseguir o maior alcance possível”.
Por sua vez, com base na grande audiência registada nos debates, José Palmeira, professor na Universidade do Minho, destaca que, “se as pessoas aderem e assistem, é porque estão interessadas”.
Porém, “as últimas eleições tinham uma diferença significativa” porque “os principais protagonistas eram novos”. “Vínhamos de uma crise política”, marcada pela demissão de António Costa, e “havia expetativa sobre as alternativas” em jogo. Em particular, Pedro Nuno Santos estava “no meio da ponte”, entre continuar o legado do Governo socialista de que fez parte como ministro ou assumir as posições divergentes.
“Continuidade ou não”
“O cenário atual é completamente diferente”, constata José Palmeira, quando Montenegro é primeiro-ministro há um ano e o líder do PS terá de defender uma alternativa. Prevê que a escolha dos eleitores será essencialmente “entre haver ou não continuidade”, notando que, por norma, os debates “não alteram muito a opinião das pessoas”. No atual contexto político, serão a seu ver ainda menos decisivos. “Numa sociedade muito mediática, com informação política 24 horas” por dia, os eleitores “já têm opinião formada sobre os políticos e o Governo”, referiu a propósito.
José Palmeira crê que, este ano, “os debates não serão tão apelativos para o eleitor porque não haverá grande novidade”, em termos de protagonistas ou de ideias. De qualquer modo, “o espetáculo dos debates” irá sempre atrair audiência porque, “muitas vezes, as pessoas têm curiosidade de ver”.
Quanto à Spinumviva, o politólogo diz que pode funcionar como “estratégia de vitimização” por parte de Montenegro nos debates, jogando a seu favor o argumento da estabilidade. Tal como diz ter sucedido na Madeira, onde Miguel Albuquerque - reeleito quase com maioria absoluta apesar do polémico processo judicial - também alegou a necessidade de garantir condições de governabilidade nas eleições antecipadas.
Para o politólogo, do lado da coligação entre PSD e CDS, pesarão as sondagens que poderão ter um efeito de arrasto. Trata-se, desde logo, de saber se conseguirá maioria absoluta, com ou sem IL, que esteve ao lado do Governo na moção de confiança.
Tal como no ano passado, voltou a gerar polémica o facto de Luís Montenegro ter indicado para alguns “duelos” Nuno Melo, seu parceiro de coligação, designadamente para os debates com BE, PAN e Livre.