O modelo das Unidades Locais de Saúde (ULS) pode trazer "muitos ganhos e muitas respostas às populações". No entanto, há também "fragilidades" e reformas que necessitam de ser feitas num modelo que começou a ser implementado há mais de duas décadas. Quem o diz é Margarida Filipe, enfermeira-gestora com funções de direção na ULS de Matosinhos e uma das oradoras da conferência "Estados Gerais - Transformar o SNS" que, no próximo sábado, vai decorrer no Porto. "Vivências de percurso numa ULS - tanto andado, tanto por andar" será o mote da intervenção de Margarida Filipe.
Corpo do artigo
"Acho que é um modelo muito importante e que pode trazer muitos ganhos em saúde e muitas respostas às populações. Mas entendo que, ao longo dos anos, ele não foi devidamente valorizado. Não houve um verdadeiro investimento neste modelo", afirmou Margarida Filipe.
Embora se assuma como uma defensora deste modelo - que integra o hospital e os centros de saúde na mesma instituição - a enfermeira aponta para a necessidade de reformas. "Este modelo precisa de ser reformado para ter muito mais eficiência", disse, exemplificando com a necessidade de dar mais autonomia aos Conselhos de Administração das ULS.
A primeira ULS em Portugal foi criada em 1999, em Matosinhos. Recentemente, a direção executiva do SNS anunciou a intenção de criar novas unidades. Para Margarida Filipe, este modelo de organização "tem muitos pontos fortes", mas também "fragilidades".
A enfermeira dá como exemplo de fragilidades questões relacionadas com o financiamento e a possibilidade de existirem "duas direções clínicas médicas" nas ULS que, no seu entender, "não favorecem a integração clínica".
"Não podemos estar a olhar para modelos clínicos integrados e depois ter direções clínicas em que uma olha para os cuidados de saúde primários e outra olha para os hospitalares", referiu Margarida Filipe, apontando como uma das vantagens o facto de o modelo "garantir ao cidadão uma maior continuidade dos cuidados na resposta total às suas necessidades" .
Organizado pela Fundação para a Saúde - SNS, o debate do próximo sábado insere-se num ciclo de conferências sobre saúde. "É muito pertinente haver iniciativas que discutam a saúde e o SNS porque, efetivamente, temos de fazer mudanças. E estamos numa altura adequada: temos uma direção executiva a iniciar e um Governo com maioria absoluta e capacidade para fazer as reformas necessárias", notou Margarida Filipe.
Debates percorrem o país
Os debates sobre os "Estados gerais - Transformação do SNS", organizados pela Fundação para a Saúde-SNS, vão percorrer o país e já há quatro datas fechadas. A primeira conferência realiza-se este sábado, no Porto. A 1 de abril, o debate será em Évora. Coimbra recebe o evento a 12 de maio e Setúbal em junho (dia a definir).