A "qualidade do ar em Portugal é genericamente boa", mas existem algumas "situações de preocupação", particularmente "Lisboa, Porto e Braga", admitiu, esta quarta-feira, Nuno Lacasta, presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), na abertura do programa que assinala o Dia Nacional do Ar, em Aveiro.
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As três regiões estão a trabalhar "em melhorias", mas "não podemos ser complacentes e pensar que todos os problemas em termos de qualidade do ar no nosso país estão resolvidos, não estão", acrescentou, lembrando que existe uma ação da Comissão Europeia contra Portugal por ter excedido alguns níveis de poluentes.
A resolução é "complexa e custosa" e passa por "descarbonizar os transportes". "No dia em que o fizermos, a qualidade do ar nas nossas cidades, nas nossas vilas, melhora instantaneamente. Há aqui claramente um desafio de índole económica, societal, política".
A medida recente, aprovada pela União Europeia, de não permitir a circulação de novos veículos a combustão na Europa a partir de 2035 "ajudará nessa matéria", assim como os apoios para a aquisição de veículos elétricos, meios de mobilidade suave e o passe social.
"O investimento na ferrovia, nas linhas de metro, em autocarros verdes, é absolutamente crucial porque também aqui estamos a tentar recuperar um atraso de cerca de duas décadas em matéria de transportes públicos", acrescentou, defendendo que é preciso tornar os "interfaces", ou seja, o tempo de mudança entre meios de transporte, "competitivo" face ao transporte individual. De igual forma, a "bilhética única é vital" para facilitar o uso do transporte público.
Atualmente há um conjunto de metas em revisão na União Europeia que visam aproximar as metas da qualidade do ar dos objetivos da Organização Mundial de Saúde, uma vez que tem grande impacto na saúde. Estima-se que cerca de 400 mil pessoas na Europa morrem prematuramente, por ano, em resultado de doenças induzidas por fraca qualidade do ar. Em Portugal serão cerca de seis mil. "O número é muito superior a valores de sinistralidade rodoviária, é uma pandemia por ano", disse Nuno Lacasta.
Inaugurado laboratório móvel
Ao final da tarde de hoje vai ser inaugurado o Laboratório do Ar, uma estrutura móvel com vários sensores que vão medir a temperatura e humidade do ar e poluentes como partículas, monóxido de carbono, dióxido de carbono, dióxido de azoto e ozono. A informação é enviada para um microcontrolador e uma plataforma digital, que apresenta os dados em tempo real.
O projeto será direcionado tanto para a comunidade científica como para aprendizagem. A comunidade científica, através do departamento de Ambiente e Ordenamento da Universidade de Aveiro e da unidade de investigação Cesam, poderá tratar os dados recolhidos. A Fábrica Centro Ciência Viva desenvolverá atividades para o público em geral e escolas.
Por ser móvel, sublinha o diretor da fábrica, Pedro Pombo, "permite realizar atividades na fábrica e universidade de Aveiro, podendo também deslocar-se às escolas" da região de Aveiro. A intenção é, no futuro, "alargar o projeto à rede de centros Ciência Viva, instalando mais laboratórios e possibilitar a expansão do projeto para outros locais do país", acrescenta.
Neste projeto unem-se "três pilares: cientistas de investigação, comunicação em ciência com a fábrica e a sociedade, através da comunidade escolar e da empresa patrocinadora do equipamento usado nestas medições", destacou Artur Silva, vice-reitor da Universidade de Aveiro, realçando que a academia aveirense dedica-se há muitos anos ao estudo da qualidade do ar.