O diretor do serviço de Oncologia do Centro Hospitalar e Universitário do Porto (CHUP), António Araújo, considera "fundamental" que o Governo aumente a oferta de consultas para quem queira deixar de fumar. O clínico entende que tem havido "desinvestimento" nos últimos anos, avaliação que os números parecem corroborar: em 2021, o total destas consultas e de locais onde elas podem ocorrer foi o mais baixo desde, pelo menos, 2017.
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"É verdade que a pandemia teve um impacto muito grande" na redução de consultas antitabaco, reconhece António Araújo ao JN. No entanto, o também fundador da Pulmonale - Associação Portuguesa de Luta Contra o Cancro do Pulmão, acrescenta: "Também parece haver um certo desinvestimento por parte do Ministério da Saúde na luta contra o tabagismo".
Em 2021, segundo dados fornecidos pela DGS ao JN, houve cerca de 24 300 consultas de cessação tabágica. De acordo com o relatório do Programa Nacional para a Prevenção do Tabagismo, elaborado pela DGS e pelo Ministério da Saúde, em 2020 tinha havido 25 486 consultas (menos 1 186). De 2019 - o último ano pré-pandemia - para 2020, existiram menos 16 460 (de 41 946 para 25 486).
No entanto, a tendência decrescente já se verificava antes da covid-19: de 2018 para 2019, tinham-se realizado 2 192 consultas. António Araújo explica que foi nessa altura que estas sessões antitabaco deixaram de fazer parte dos contratos-programa assinados entre as Unidades de Saúde Familiar e o Ministério da Saúde.
Primeiras consultas caem
Para inverter a tendência, o responsável pela Oncologia do CHUP considera "fundamental" voltar a incluir as consultas de cessação tabágica nos contratos-programa. A mudança teria de ser acompanhada do reforço do número de consultas, em articulação com a fixação de "objetivos" no que toca à quantidade de pessoas que largam o vício do tabaco.
Mas Araújo duvida que isso ocorra "no tempo mais próximo", embora lamente: "Esquece-se que o tabaco está diretamente ligado às principais causas de morte no país", realça, aludindo ao cancro ou aos enfartes.
Em 2021, houve 5902 primeiras consultas anti-tabaco, menos 227 do que no ano anterior (em 2018 eram 13 010). Os locais de consulta também desceram, de 152 para 112; destes, 82 foram centros de saúde e 30 hospitais.