Líder do PSD apadrinha livro que expõe vida íntima de vários políticos.
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O líder do PSD mantém a intenção de apresentar o livro do jornalista José António Saraiva, "Eu e os políticos", no próximo dia 26, em Lisboa, apesar da polémica que já está a gerar a obra, por expor pormenores e conversas privadas de políticos e personalidades, algumas recentemente falecidas, como a mulher de Durão Barroso, Margarida de Sousa Uva. Questionada ontem pelo JN, fonte do gabinete de Passos Coelho reafirmou o que dissera na véspera ao "Diário de Notícias": que o líder do PSD "aceitou o convite, mesmo antes de ler o livro".
O apadrinhamento por Pedro Passos Coelho do apelidado "livro de mexericos" incomodou vários dirigentes do PSD e do CDS, que não compreendem a decisão, embora sem dar a cara. Um dos capítulos é dedicado à vida íntima de Paulo Portas, ex-parceiro de coligação de Passos no Governo. Várias figuras visadas no livro mostraram ao JN espanto pelo facto de conversas privadas estarem a ser tornadas públicas. Umas desmentem, outras, como Manuel Maria Carrilho, criticam o estilo.
No círculo restrito do presidente do PSD, o desconforto era, ontem, mais do que muito. "Não se entende. Mas o próprio também não sabia no que se estava a meter ou que se falava de Paulo Portas nesses termos. Assumiu esse compromisso com o autor", disse, ao JN, um dos vice-presidentes da bancada. Do CDS a reação foi idêntica, mas mais crítica. "A obra é o que é. É uma coisa suja. E associar-se a ela, deixa-me sem palavras", atirou um dirigente do CDS.
Passos também é alvo das inconfidências do ex-diretor do "Expresso". Mas num tom elogioso, sem paralelo na obra.
Sofia Galvão, vice-presidente do PSD, tentou esvaziar a polémica. "Desconhecendo a obra e não tendo falado com o dr. Pedro Passos Coelho, nem com o arquiteto Saraiva, só tenho a dizer que no PSD sentimo-nos confortáveis com as decisões que o presidente do partido toma".
Cada capítulo corresponde à história de uma figura pública, expondo pormenores das vidas de políticos e de outras personalidades, como Pedro Santana Lopes, Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa - ainda que o autor assuma que nunca o entrevistou - Ângelo Correia, Álvaro Cunhal, Cavaco Silva, Leonor Beleza, Marques Mendes ou Emídio Rangel e o seu irmão, o juiz Rui Rangel. Ao detalhar tais conversas, Saraiva acaba por envolver várias outras pessoas, como Joana Amaral Dias, Medeiros Ferreira ou Vera Jardim.
Santana Lopes, apelidado de "bom malandro", recusou comentar a obra, que lhe dedica sete páginas. Já o o ex-ministro do PSD Nuno Morais Sarmento, também visado, mostrou-se surpreendido com o facto de Passos se associar a um "livro de mexericos".
"Não percebo. Ele não costuma ser um homem incauto", admitiu, recusando alongar-se sobre um livro cujo teor ainda desconhece. "Fico muito surpreendido que uma pessoa com este currículo no jornalismo decida terminar a sua carreira com um livro de mexericos. Não se compreende".