População até aos 24 anos está menos escolarizada e mais inativa. Ministra lamenta: "Não é admissível".
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As taxas de desemprego, de inatividade e de abandono escolar subiram entre os jovens até aos 24 anos, sendo que esta geração está menos escolarizada do que a anterior. O retrato é do relatório do emprego e formação, do Governo, que mostra um país com mais trabalhadores, melhores salários e desemprego estável, exceto nos jovens.
“Não me contento que tenhamos uma taxa de desemprego tão baixa em termos gerais, mas que seja mais de 20% entre os jovens”, resumiu a ministra do Trabalho, Maria Ramalho, na apresentação do relatório, esta sexta-feira. A governante acrescentou que “não é admissível” haver uma taxa tão alta.
O relatório mostra que a taxa de desemprego nos jovens até aos 24 anos era de 20,3%, no ano passado, tendo subido face aos 19,1% registados em 2022.
Está acima da média da União Europeia (UE) para os jovens, que é de 14,5%, e da média de toda a população nacional (6,5%).
O relatório revela ainda que o abandono escolar precoce (antes de completar o 12.º ano) subiu pela primeira vez desde 2017. Em cada 100 estudantes, há oito que deixam a escola antes do tempo. A média europeia é de 9,5%.
O aumento do abandono escolar reflete-se noutro dado do relatório: a percentagem de jovens com o ensino secundário ou superior diminuiu, no ano passado, de 87,6% para 87,3%. O valor está acima da média da UE (84,1%), mas há mais de dez anos que não baixava, sendo que foi apenas entre as mulheres que a redução aconteceu. Nos homens manteve-se estável.
Sem causa concreta
Outra inversão de tendência foi registada na taxa de inatividade dos jovens até aos 24 anos. Refere-se àqueles que não trabalham, não estudam nem frequentam formações. Se excluirmos o ano 2020, de pandemia, a percentagem de jovens inativos estava a descer há mais de dez anos, mas voltou a subir, em 2023, de 7% para 8%.
O coordenador da subunidade de psicologia escolar e de educação da Universidade do Minho, João Lopes, diz que “não há qualquer razão aparente” para que os indicadores relacionados com estes jovens tenham piorado em 2023. “Pode haver aqui algum efeito da pandemia”, aventa o docente, mas “é preciso alguma prudência na análise” e só os próximos anos vão dizer “se isto é uma correção estatística de anos anteriores ou uma tendência para ficar”.
João Lopes sublinha, contudo, que na maioria destes indicadores “Portugal está melhor do que a média da UE”, embora esteja a piorar. Depois, “pode haver aqui alguma relação” entre indicadores. Por exemplo, o abandono escolar baixa a taxa de escolarização, o que potencia o desemprego ou a inatividade. Mas “é cedo para ter a certeza”, ressalva.
Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, também não encontra uma causa concreta. Nota, porém, que os fatores que potenciam o abandono são “a falta de condições económicas, a condição social e a falta de apoio das famílias, que são desinteressadas e não dão valor à educação”. São fatores que “a escola pública tenta combater”, realça.
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Taxa de desemprego dos 16 aos 24 anos
A taxa de desemprego dos jovens foi de 20,3%, no ano passado. Está acima da média da UE que é de 14,5% Em 2022 era de 19,1%.
Contratos a termo
Na apresentação, a ministra Maria Ramalho lamentou o “grande nível de contratos sem termo” a que corresponde “um nível remuneratório muito baixo”. “Não me contento”, afirmou.
Emigração qualificada
A ministra criticou ainda o alto fluxo de emigrantes qualificados. São jovens que “já não regressam ou só vêm cá fazer férias”, o que “tem impacto” nas contas públicas.