Já não são só o ridículo, o exagero e os erros na gramática e na ortografia, muito comuns nas notícias falsas, a única estratégia usada para propagar mentiras e enganar os cidadãos.
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A desinformação assume diversas formas, seja num texto, numa fotografia ou em vídeo e está cada vez mais subtil e complexa. As redes sociais são o principal veículo e a inteligência artificial pode agravar o fenómeno, o que tem aumentado a pressão sobre as gigantes tecnológicas. Ao mesmo tempo, os jornalistas, que seguem regras éticas e deontológicas, são incentivados a ajudar os leitores, os ouvintes e os telespectadores a identificar os conteúdos falsos e as “verdades alternativas”. “Estamos todos vulneráveis à desinformação”, diz a professora universitária Sara Pereira.
“Há um grande desconhecimento e as pessoas não percebem que estão a ser manipuladas. As estratégias de desinformação são muito subtis, quase invisíveis e camufladas”, afirma a também investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho. Sara Pereira esclarece que o fenómeno não se limita à “notícia falsa”, em que o conteúdo exagerado é facilmente desmontado através de uma simples pesquisa. As fotografias e os vídeos manipulados, por exemplo, exigem um “trabalho muito apurado de verificação”, aponta a especialista.
Expor exemplos
A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) reconhece a desinformação como um “fenómeno de grande complexidade”. Antes das legislativas de março, a reguladora contactou plataformas digitais, como o TikTok, a Meta (dona do Facebook e do Instagram) e a Google para criar “mecanismos de sinalização de conteúdos considerados enganadores”. Para as europeias, tem agora uma parceria com a Universidade da Beira Interior para detetar a desinformação.
Para a ERC, a “exposição pública” da desinformação é uma das armas para combater o fenómeno, aponta ao JN. Em fevereiro, a reguladora deu conta de uma publicação na rede social X de uma sondagem falsa que estava a circular indevidamente com o grafismo da TVI. O utilizador que a veiculou estava conotado com o Chega.
Sobre as europeias, os representantes do TikTok em Portugal adiantam ao JN ter sido criado um “centro eleitoral” para cada um dos 27 estados-membros. No resto do ano, a plataforma está a trabalhar com “verificadores de factos” e obriga a identificar os conteúdos gerados por inteligência artificial. A Meta não respondeu ao contacto do JN sobre o tema.
Todos são vulneráveis
Outros eventos de grande impacto, como a covid-19 ou os conflitos, foram e são usados para difundir mensagens falsas com fins políticos, ideológicos, religiosos e económicos, refere Sara Pereira, que preside hoje ao Conselho Consultivo do Plano Nacional de Literacia Mediática. A professora universitária lembra que “estamos todos vulneráveis” e que a Comunicação Social deve ter um papel ativo “a informar sobre a desinformação”.
Dicas para combater a desinformação
Fontes
Procurar saber mais sobre o órgão de Comunicação Social e o site em que foi publicada a notícia e verificar a sua credibilidade e veracidade. Ler a notícia e ver quais as fontes de informação usadas para aquela informação e quem a escreveu.
Conteúdo
Ver qual é a data da notícia e se é atual, procurar saber mais sobre o tema da notícia e “ir além da leitura do título”, diz a professora universitária Sara Pereira. Ter em conta que o título, afirma a também investigadora, por vezes, “apenas quer chamar a atenção para o clique”.
Perspetivas
Procurar várias perspetivas e ângulos sobre o mesmo assunto e ir “além das [próprias] convicções”, refere Sara Pereira, de forma a identificar possíveis preconceitos ou estereótipos. Conversar e trocar opiniões.
Partilha
Não partilhar conteúdos se não se tiver a certeza da veracidade. “Podemos [correr o risco] de ser agentes da desinformação”, aponta Sara Pereira.