Gastos 120 milhões de euros em anti-histamínicos em três anos. Poluição e o que comemos tem contribuído para aumentar as doenças alérgicas.
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A despesa com medicamentos para tratar alergias não pára de aumentar e só nos últimos três anos, no total, os portugueses gastaram quase 120 milhões de euros a comprar anti-histamínicos. Entre 2017 e 2019, a despesa com esta medicação aumentou em cerca de 5,5 milhões de euros. É o reflexo do crescimento das doenças alérgicas. Uma em cada três pessoas sofre de algum tipo de alergia. Além da genética, a poluição e o que comemos têm contribuído para isso.
"Nas últimas décadas, não houve mudanças genéticas que justifiquem este aumento. Temos que procurar outra causa e, sem dúvida, que é o ambiente. Há muito mais doentes de alergias nos países industrializados", diz Libério Ribeiro, pediatra e imunoalergologista.
No ano passado, segundo dados da consultora IQVIA Portugal, PharmaScope Combined venderam-se mais de sete milhões de embalagens de anti-histamínicos de uso sistémico e de uso tópico.
parto também influi
Rinite, provocada por ácaros, pólenes ou pelos de animais, asma, dermatite atópica, as doenças alérgicas são mais que muitas. E não têm cura. A grande maioria, segundo Libério Ribeiro, surge antes dos dois anos e o ambiente em que crescemos tem um impacto de 80% no risco de as desenvolver.
"Começa logo quando nascemos. Desde o tipo de parto à alimentação e infeções nos primeiros meses de vida", explica o pediatra, que acrescenta: "Os bebés nascidos de parto normal têm menos risco de desenvolver alergias do que os que nascem por cesariana".
Depois, a amamentação traz menos riscos do que os leites adaptados. Assim como crescer num ambiente sem fumo de tabaco e não tomar antibióticos no primeiro ano de vida, que se prescrevem indiscriminadamente, destruindo bactérias do intestino importantes para o sistema imunitário e para a prevenção da doença", explica.
José Alberto Ferreira, imunoalergologista e vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC), alerta que as doenças alérgicas ainda são "subdiagnosticadas e subtratadas". E o facto de os doentes não tratarem uma alergia abre as portas para a marcha alérgica, em que desenvolvem outros tipos.
De acordo com Libério Ribeiro, as alergias alimentares triplicaram na última década e "podem levar à morte por choque anafilático". As mais típicas são ao leite, ovo, trigo, peixe, frutos secos ou mariscos. E as intolerâncias alimentares - à lactose ou glúten - também têm vindo a crescer, mas aí os sintomas são só gastrointestinais. "Cada vez comemos mais substâncias que não se comia e alimentos processados. Não estamos geneticamente formatados para estes alimentos".
Para o imunoalergologista, a solução é prevenir. "As alergias afetam muito a qualidade de vida e os doentes alérgicos estão muito mais sujeitos a infeções virais, como a covid-19. Cada euro investido na prevenção pouparia milhões no futuro".