A diretora-geral de Saúde, Graça Freitas, admitiu esta sexta-feira que poderá haver novos casos de sarampo, depois de terem sido confirmados 21 doentes na quinta-feira.
Corpo do artigo
9191847
À margem da apresentação do programa nacional de rastreio de saúde da visão infantil, em Santa Maria da Feira, a responsável remeteu nova atualização do número de infetados para o final do dia e admitiu que, quando existe um surto, o ponto de vista clínico "é complexo".
"É provável que desde ontem [quinta-feira] tenham aparecido casos suspeitos, mas que carecem de reporte, quer para a Administração Regional de Saúde do Norte (ARS Norte), quer para o nível nacional, e carecem de uma investigação laboratorial. Não é uma questão de não controlo, mas uma dinâmica do próprio vírus e da doença", referiu em declarações aos jornalistas.
A responsável atualizou também o estado das cinco pessoas internadas, revelando que uma delas terá alta nos próximos tempos, estando as restantes a "evoluir muito bem", sendo que todas elas "ou não tinham uma dose da vacina ou duas", o que indica que "tiveram formas variadas de sarampo, menos grave e que não levam a transmissão a outros".
9192129
Segundo contou, este é um "surto característico dos países desenvolvidos, com altas taxas de vacinação", caso contrário a doença já se teria entranhado "em comunidades e crianças", o que é uma amostra do "alto nível de imunidade" no país, visto que só tem ocorrido "em adultos jovens", sobretudo nos profissionais de saúde.
A recomendação para os profissionais de saúde é estarem vacinados, o que não evita poderem ter "uma forma muito ligeira de sarampo e que não transmite", além de um aumento do nível de alerta para o diagnóstico.
"Os médicos estão atentos a qualquer pessoa que apareça na fase inicial da doença (febre, conjuntivite, pingo no nariz)", disse Graça Freitas, lembrando que, depois, aparecem lesões cutâneas características.
O nível de atenção está elevado
"O nível de atenção está elevado. Uma vez encontrada uma pessoa suspeita, procedemos ao isolamento dessa pessoa. É posta num espaço próprio, é dada uma máscara, medidas de contenção respiratórias e da infeção, para que esta pessoa não contagie outras", disse.
A diretora-geral respondeu também às declarações do presidente da Associação Portuguesa dos Administradores dos Hospitais, Alexandre Lourenço, que defendeu um consenso entre as ordens e os sindicatos para uma campanha pelo cumprimento do Programa Nacional de Vacinação e admitiu que os hospitais não fazem triagem para saber se os profissionais que contratam têm as vacinas em dia.
O nosso programa nacional de vacinação é universal e voluntário
"Pode fazer-se pedagogicamente [uma triagem dos profissionais de saúde]. Tudo se pode fazer de forma pedagógica, consensual e informada. Vocês acham que, em consciência, alguém não vai verificar o vosso boletim? O que acontece é que somos vacinados na infância e quando entramos no mundo laboral, passados 25 anos, não se tem a sensação se estamos corretamente vacinados ou não", retorquiu.
Graça Freitas recusou a possibilidade de obrigar os profissionais de saúde a vacinarem-se, porque além de "carecer de enquadramento legal, vivemos num estado de Direito e o nosso programa nacional de vacinação é universal e voluntário" e que não "é por uma medida ser obrigatória que se torna um êxito".
Sobre os movimentos anti vacinas, sublinhou que os trabalhadores da área de saúde têm a "obrigação de esclarecer as dúvidas às pessoas que as tenham" e que a vacinação é um "ato voluntário, um dever, um direito e um ato de solidariedade para com todos".
"Mesmo que haja 1% ou 3% de pessoas que não estejam vacinadas, beneficiam da vacinação dos outros. É este o contrato social entre os profissionais de saúde e a população que deve haver. As pessoas têm direito a ter dúvidas e a vê-las esclarecidas. Deve ser uma adesão esclarecida. As vacinas salvam vidas, protegem-nos contra o sofrimento e contra a morte", rematou.