Treze casos em Portugal associados a nova variante. Especialistas afirmam que ómicron pode ser mais transmissível e reduzir eficácia das vacinas.
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A chegada da ómicron a Portugal, com 13 casos de infeção, ocorreu através do surto na equipa do B-SAD, entre jogadores e elementos do staff. Um dos infetados terá realizado uma viagem à África do Sul. A nova variante motivou medidas redobradas por parte da Direção-Geral da Saúde (DGS), nomeadamente o isolamento profilático dos contactos de risco (independentemente do grau de exposição e do estado vacinal) e a realização de três testes à covid-19 - um no imediato e dois no 5.º e 10.º dias. Os especialistas ouvidos pelo JN dizem ser cedo para antever a gravidade trazida pela ómicron, mas não negam uma possível maior transmissibilidade e até a redução da eficácia das vacinas.
"O que esta variante tem de novo é que tem mais mutações do que todas as outras variantes. É aquela que se afasta mais da variante original", diz o virologista Paulo Paixão. Até ao fecho desta edição, havia 18 países em todo o Mundo com casos associados à ómicron.
O que tem preocupado mais os especialistas é o facto da nova variante - detetada pela primeira vez na África do Sul a 11 de novembro - provocar alterações na proteína Spike do vírus, ou seja, aquela que tem ligação às células. "Há um potencial para ter uma interação diferente ou causar doença que pode ter características ligeiramente diferentes daquelas a que estamos habituados", diz o bioquímico Miguel Castanho.
Tudo indica, pela disseminação a que se assiste nos últimos dias, que a ómicron pode ser mais transmissível do que a variante delta (dominante em Portugal). A ocorrer tantas alterações na proteína S, há também uma probabilidade da nova variante ser mais resistente à vacinação. "Mas isto é um conceito teórico", atira Paulo Paixão. Apenas "os resultados dos ensaios de laboratórios" poderão indicar realmente como os anticorpos atuam, explica Miguel Castanho.
Sintomas ligeiros
Os dois especialistas afirmam que "daqui a duas ou três semanas" haverá mais dados e só aí se saberá o real impacto da ómicron em Portugal e no Mundo, nomeadamente se trará mais gravidade à doença da covid-19. Os 13 infetados com a nova variante "estão assintomáticos ou com sintomas ligeiros", disse ontem a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas.
Também Angelique Coetzee, médica sul-africana que foi uma das primeiras a identificar a ómicron no país, referiu à Reuters que os seus pacientes tinham sintomas leves da covid-19 (ler caixa). Contudo, o virologista português contrapôs que a maioria eram jovens. "Não temos qualquer indicação que provoque doença grave, mas os casos são poucos e não nos permitem tirar conclusões".
Até lá, a prudência dita que todos os cuidados sejam tidos em conta. "Há vários cenários: podemos chegar à conclusão que não é mais transmissível e não é resistente à vacina; ou pode ser mais transmissível e resistente", esclarece Paulo Paixão. O também professor da Nova Medical School não prevê uma "situação catastrófica". "Aquela ideia que é uma supervariante (...) honestamente não estou à espera disso".
A decisão da DGS em apertar a vigilância aos contactos dos infetados é vista com "bons olhos". "É a coisa certa a fazer para reduzir o risco. Não é por falta de confiança na vacina. Até se ter a certeza, não se arrisca", aponta o bioquímico. Miguel Castanho conclui que as "pessoas têm de estar alerta do que pode vir, mas não é uma fatalidade".
Saber mais
Prontidão
A Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu aos países para aumentar o estado de prontidão dos sistemas de saúde face à nova variante, de forma a responder a eventuais surtos.
Apelo à calma
João Paulo Gomes, investigador do Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge, apelou à calma, até se ter dados consistentes sobre a ómicron.
Restrições
África do Sul lamentou as proibições aplicadas por vários países às viagens àquele território. O ministro da Saúde sul-africano diz que estão a ser castigados.
África do Sul
Médica diz que sintomas são "leves"
Angelique Coetzee, uma das primeiras médicas na África do Sul a identificar a ómicron, diz que os sintomas dos seus pacientes foram "incomuns, mas leves". Os utentes eram todos jovens e apresentavam fadiga intensa e uma criança tinha a tensão alta. O país tem 13 milhões de pessoas totalmente vacinadas (24%), de acordo com OMS.