Os comunicados que têm vindo a ser publicados por parte das dioceses portuguesas permitem apurar que foram apontados pelo menos 82 nomes de padres suspeitos de abusos sexuais e de três leigos. Até à data, só seis sacerdotes e um leigo da diocese de Leiria-Fátima foram afastados preventivamente e várias dioceses optaram por pediram esclarecimentos adicionais à comissão independente. Os padres afastados são um na Guarda, dois em Braga, dois nos Açores e um em Évora.
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Até ao momento, das 20 dioceses com casos apontados, apenas as dioceses de Setúbal e Vila Real ainda não se pronunciaram sobre o que se seguirá aos membros do clero identificados pelo relatório da comissão independente para o estudo dos abusos sexuais na Igreja Católica, que foi conhecido há perto de um mês. Setúbal, que está sem bispo nomeado e é gerida por um administrador diocesano, diz que não recebeu nenhum envelope com nomes.
Lisboa
A lista tem 24 nomes de padres suspeitos de abusos, cinco dos quais estão no ativo. Nenhum foi para já afastado. Oito nomes são de sacerdotes já falecidos. Em comunicado, o Patriarcado adiantou que oito nomes respeitam a sacerdotes já falecidos, dois são padres doentes e retirados do ministério, três de sacerdotes sem qualquer nomeação, quatro são nomes desconhecidos, além de um leigo e de um ex-padre.
Com base nesta lista, a Comissão Diocesana de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis do Patriarcado de Lisboa "solicitou de imediato, à Comissão Independente, os dados respeitantes à lista nominal, de forma a tornar possível a entrega ao Cardeal-Patriarca das recomendações que lhe permitam fundamentar a proibição do exercício público do ministério dos sacerdotes no ativo e assunção das devidas responsabilidades no apoio e respeito pela dignidade das vítimas". A comissão do Patriarcado diz aguardar "com caráter de urgência a resposta da Comissão Independente".
Porto
Dos 12 padres suspeitos, sete estão no ativo e sob investigação. Os abusos ocorreram durante os 70 e 80. Quatro já faleceram e um já não pertence a esta diocese. A diocese promete suspendê-los preventivamente se "aparecerem indícios fiáveis" dos crimes, acrescentando já ter entregado ao Ministério Público a lista recebida da Comissão Independente.
Braga
Na lista desta arquidiocese constam oito nomes, dos quais um - padre das paróquias de Serzedo e Calvos, em Guimarães -, foi afastado esta sexta-feira, outro está afastado desde julho de 2022. Há também um "agente pastoral" e um leigo que por falta de elementos ainda não foram identificados. Três dos sacerdotes já faleceram.
A arquidiocese avançou ainda que um dos nomes "não corresponde a nenhum sacerdote" desta circunscrição eclesiástica, "nem se encontra nos arquivos qualquer referência a seu respeito", pode ler-se no comunicado. A arquidiocese pediu informação à comissão para aprofundar a investigação.
Fernando Sousa e Silva, o padre de Joane - que terá abusado, durante décadas, crianças no confessionário -, afastado há meses arrisca um novo processo se se verificar que os testemunhos recolhidos pela comissão configuram novos factos. Em comunicado, a arquidiocese de Braga relembrou que o cónego - sem referir o seu nome - já foi alvo de medidas disciplinares, onde se inclui a proibição de celebrar a missa e a confissão. As queixas em relação ao padre já são antigas, mas o caso só chegou à comissão diocesana em 2019.
Santarém
A diocese disse, em comunicado, que não recebeu nenhum envelope com nomes, distribuídos na Assembleia Plenária de dia 3 de março, mas admite que houve casos referidos no relatório "que não se enquadravam na geografia e/ou no tempo histórico da diocese" que só tem 13 concelhos dos 21 municípios do distrito e foi criada em 1975. Ainda assim, o bispo de Santarém, José Traquina, e a Comissão Diocesana de Proteção de Menores disseram que "continuam disponíveis para escutar todas as pessoas que tenham motivo de denúncia de abusos ou comportamentos inadequados no seio da Igreja Diocesana", garantindo que "tudo farão para assegurar um ambiente seguro para as crianças e para todos".
Viseu
Só um dos cinco padres suspeitos foi afastado. Todos os casos estão sob investigação. A diocese alega que não há indícios suficientes para concluir que os crimes foram cometidos. O caso mais recente é o do padre Luís Miguel da Costa da paróquia de S. João de Sousa. O sacerdote foi afastado, em agosto de 2021, após a família do adolescente vítima dos abusos apresentou queixa na Justiça e na diocese. Está acusado de um crime de coação sexual agravado, na forma atentada, e um crime de aliciamento de menores para fins sexuais.
O bispo de Viseu, António Luciano Costa, garante, no entanto, que já conhecia os cinco casos denunciados pela comissão independente responsável pela investigação.
Guarda
Na sexta-feira, o padre Vítor Alago, de 61 anos, de Figueira de Castelo Rodrigo, investigado por abusos sexuais, foi afastado, preventivamente pelo bispo Manuel Felício depois de conhecidos novos dados. Há mais um nome de um padre falecido em 1980.
Coimbra
Dos sete padres suspeitos, um está em funções e sob investigação prévia canónica. Foram pedidos esclarecimentos adicionais à comissão independente sobre este caso. "Dessas informações conclui-se que não foi praticada nenhuma forma de abuso sexual de menor. Por esse motivo não lhe foram impostas medidas cautelares, embora esteja em curso a investigação prévia canónica", escreveu a diocese em comunicado divulgado este sábado. Cinco já faleceram e há ainda um sacerdote que foi sujeito a duas investigações, mas o caso foi arquivado.
Leiria-Fátima
Foram identificados cinco suspeitos, dos quais três padres que já faleceram. Os restantes são leigos: um foi dispensado por precaução e a identificação de um segundo leigo "ainda não está cabalmente determinada, podendo tratar-se de uma pessoa já falecida".
Aveiro
Dos três nomes da lista, dois padres já faleceram e outro caso foi investigado e arquivado pela Justiça, apôs ter sido foi investigado pelo Ministério Público. O caso permanece em vigilância por parte da diocese a pedido do Dicastério da Doutrina da Fé.
Lamego
A diocese tem dois padres suspeitos no ativo. O bispo já pediu mais dados à comissão independente para que possa tomar uma decisão. Em outubro, D. António Couto já tinha afastado dois sacerdotes: um padre de Vila Nova de Foz Côa, detido pela Polícia Judiciária suspeito dos crimes de tráfico de pessoas e de abuso sexual de pessoa incapaz de resistência. E outro padre de Cinfães.
Bragança-Miranda
Um dos três padres identificados já esteve suspenso, após ter sido sujeito a um processo canónico por abuso sexual de menores, processo entretanto concluído e que resultou na aplicação de medidas disciplinares. Uma fonte da Diocese indicou que o padre, que era pároco e acipreste, "esteve recatado" nos últimos dois anos, "mas já está livre por ter cumprido o processo canónico instaurado pela Santa Sé. Ainda que não tenha funções atribuídas, o sacerdote "colabora, pontualmente, quando lhe é solicitado em várias tarefas ligadas à Igreja", acrescentou a mesma fonte. A diocese verificou que um dos nomes é de fora da diocese, pelo que foi devidamente encaminhado para a Diocese de origem. O terceiro caso é de um padre que já faleceu.
Foram identificados dois sacerdotes, um já falecido e o outro que não está a exercer funções "dadas as suas condições de fragilidade pessoal", revelou D. João Lavrador à agência Ecclesia.
Évora
À arquidiocese de Évora chegaram dois nomes de alegados abusadores. Um já faleceu e o padre que estava no ativo já foi afastado preventivamente do ofício de pároco e de todas as atividades que incluam contacto com menores. O arcebispo Francisco Coelho pediu à Comissão Diocesana de Proteção e Segurança de Menores e Pessoas Vulneráveis para dar seguimento à investigação prévia. O caso diz respeito a abusos feitos a rapazes na década de 80 no seminário menor.
Beja
A diocese ainda não emitiu nenhum comunicado. De acordo com o bispo de Beja, na lista constam cinco nomes. D. João Marcos sugeriu, na terça-feira passada, que os padres suspeitos de abusar sexualmente de menores possam ser perdoados, caso estejam arrependidos e tenham feito penitência.
Portalegre
Os dois casos, ocorridos entre 1958 e 1981, dizem respeito a padres já falecidos.
Setúbal
A diocese ainda não tomou posição. Segundo o relatório da comissão, foram reportados 19 casos de abusos à comissão coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht. A diocese de Setúbal diz que não foi contactada pela comissão para responder ao pedido de entrevista para o relatório, atribuindo o caso ao momento de saída do bispo José Ornelas para a diocese de Leiria-Fátima. A diocese está sem bispo e é gerida por um administrador diocesano.
Algarve
Dos dois nomes, um caso já tinha sido arquivado e outro diz respeito a uma pessoa desconhecida pelo que a diocese pediu mais informações à comissão.
Funchal
Ao bispo Nuno Brás chegou uma lista com quatro padres identificados. Apesar de atualmente não exercerem funções, a diocese salvaguardou que iria "procurar eventuais procedimentos canónicos e civis se aplicáveis".
Angra
Foi a primeira diocese a afastar padres: um de São Miguel e outro da ilha Terceira. Já depois da comissão independente ter entregue o relatório, o bispo Armando Esteves Domingues revelou ter recebido uma nova queixa de um padre já falecido. O bispo de Angra disse que mantém um canal aberto em que o próprio recebe paroquianos, tendo referido que a Diocese "vai estar atenta a quem queira falar". "O nosso foco são efetivamente as vítimas. Estamos dispostos a acolher todas as pessoas que efetivamente precisem de conversar, de ser apoiadas".
Vila Real
A diocese ainda não se pronunciou. Ao JN, fonte da diocese avançou que a posição será conhecida durante a próxima semana.