Direita a uma só voz vota a favor da celebração anual do 25 de Novembro no Parlamento
PSD, Chega, IL e CDS aprovaram uma deliberação para que o Parlamento passe a celebrar anualmente o 25 de Novembro. As bancadas da Direita falaram quase a uma só voz, sustentando que novembro "consolidou a liberdade" e impediu uma guerra civil. O PS lembrou que o político "mais ligado" a novembro foi Mário Soares.
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O debate foi requerido pelo CDS, que apresentou um projeto para propor que o Parlamento passe a organizar uma sessão solene anual para evocar o 25 de Novembro de 1975, tal como já ocorre com o 25 de Abril. Votaram contra PS, BE, PCP e Livre, o que não evitou a aprovação. O PAN absteve-se.
Igualmente aprovado foi um projeto de deliberação da IL pata que as comemorações dos 50 anos do 25 de abril incluam uma sessão evocativa do 25 de novembro. Apenas BE e PCP votaram contra, com Livre e PAN a absterem-se. O Chega queria ainda que o dia 25 de Novembro passasse a ser feriado, mas contou apenas com o apoio do CDS (a IL absteve-se).
O debate decorreu de forma animada, com as bancadas da Direita a lembrarem, em tom crítico, as nacionalizações ou a reforma agrária, levadas a cabo durante a revolução. PSD, Chega, IL e CDS mostraram ter visões praticamente unânimes sobre o tema: por várias vezes, os deputados desses partidos aplaudiram os discursos uns dos outros. Alguns, incluindo do Chega, fizeram o mesmo quando Francisco Assis, do PS, falou.
Bruno Vitorino, do PSD, afirmou que o 25 de abril "só foi consolidado a 25 de novembro". Falou numa "tentativa de golpe de Estado" na sequência da qual "podia ter havido uma guerra civil", dado que alguns partidos à Esquerda, entre os quais o PCP, terão querido fazer de Portugal um "satélite da União Soviética".
PSD diz que Assis deu "lição" a Pedro Nuno, PS garante que tema não embaraça
À Direita aguardava-se com alguma expectativa a intervenção do PS, que chegou pela voz de Francisco Assis - a última vez que o deputado falou antes de rumar ao Parlamento Europeu. O socialista adotou um discurso conciliador, frisando até que o CDS concordaria com "quase todas" as observações que ele ali faria. Além disso, também evocou a memória da figura maior do PS.
"Não há personalidade política e civil mais ligada ao 25 de novembro do que o dr. Mário Soares", afirmou Assis, assegurando: "O PS será sempre o partido do dr. Mário Soares". Mais tarde, o também socialista Pedro Delgado Alves referiu que a Direita tentou, sem sucesso, embaraçar o PS com o tema do 25 de novembro; o problema, vincou, é que "o tema não é minimamente fraturante dentro do PS".
Em resposta a Francisco Assis, o líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, procurou tirar proveitos políticos do facto de o PS ter posto a falar alguém conotado com a ala socialista tida como estando mais à Direita: considerou que Assis deu uma "lição" ao PS e, em particular, a Pedro Nuno Santos.
"Que incómodo eu notei no secretário-geral do PS com a sua intervenção!", insistiu Hugo Soares. Lembrando que, em 2015, Assis se opôs à criação da geringonça, considerou que a ida do ainda deputado para o Parlamento Europeu irá deixar a bancada socialista da Assembleia mais desprovida de "bom senso" e "capacidade de diálogo".
Direita pede que PS esclareça "se é fiel a Soares ou à extrema-esquerda"
À Direita, Jorge Galveias, do Chega, descreveu o 25 de novembro como "um dos dias mais importantes" da História recente do país. Acusou a Esquerda de "branquear" a data, lembrou as nacionalizações e "saques" levados a cabo por "bandos raivosos da extrema-esquerda" em 1974 e 1975 e elogiou o "esforço e a coragem dos bravos militares" de novembro.
O líder da IL, Rui Rocha, acusou a Esquerda de querer "omitir" o 25 de novembro. Acusando o PS de ter "posições dúbias" sobre a data, citou um texto de Mário Soares, de 2010, onde o socialista sustentava que novembro era "tão importante" como o 25 de abril. No entender de Rui Rocha, não faz sentido "separar" ambas as datas, já que uma completa a outra.
Paulo Núncio, do CDS, argumentou que o 25 de novembro é uma data para "celebrar e não esquecer", uma vez que "completa abril". Tal como PSD e IL, também apontou a mira ao PS, instando o maior partido da Oposição a esclarecer "se é fiel a Mário Soares ou à extrema-esquerda".
25 de abril e que foi "a data fundadora", sublinha Esquerda
À Esquerda, todos lembraram que há diferenças entre o 25 de abril e o 25 de novembro, desde logo o facto de a primeira ser a "data fundadora" do regime democrático. Dos três partidos à Esquerda do PS, só o Livre considerou novembro um marco "muitíssimo importante", embora tenha criticado as intervenções das bancadas da Direita.
Joana Mortágua, do BE, insurgiu-se contra a Direita que quer criar uma "História alternativa", acusando parte dela de querer "normalizar o Estado Novo". "Talvez queira comemorar o 25 de novembro quem sabe que não pode comemorar o 28 de maio", atirou, numa alusão ao dia do golpe militar que abriria caminho à ascensão de Salazar.
António Filipe, do PCP, acusou o CDS de levar o tema a debate para evitar ser "o último classificado no campeonato do reacionarismo". Recordou os atentados a sedes do seu partido, frisando que o objetivo dos "setores mais reacionários" com o 25 de novembro era "a ilegalização do PCP". Lembrou ainda as "tentativas golpistas" de Direita, de 28 de setembro e 11 de março, e argumentou que os comunistas quiseram "impedir a guerra civil".
Rui Tavares, do Livre, alegou que, ao contrário do que acontece com o 25 de novembro, no dia 25 de abril "sabemos que factos estamos a comemorar". Lembrando que a Direita já podia ter criado uma sessão solene para celebrar novembro mas "nunca o fez", o deputado pediu que essa data não seja usada "como arma de arremesso político".
Pedro Delgado Alves, do PS, alegou que o CDS só quer debater novembro para, "em proveito próprio, reabrir feridas" já saradas. Tal como o PCP, também o socialista lembrou que, a 25 de novembro, havia setores da Direita que queriam instituir uma "democracia só para alguns". Recordou ainda que o próprio Ramalho Eanes, figura central de novembro, disse em tempos que as datas fraturantes "não se comemoram".
Inês Sousa Real, do PAN, sublinhou que foi em abril que se "conseguiu a liberdade". Apelou a que não se "cerrem fileiras" nem em torno de abril nem em torno de novembro, frisando que as datas históricas não devem ser "bastião" da Direita ou da Esquerda.