O diretor da urgência do Centro Hospitalar de São João diz que a crise no Serviço Nacional de Saúde (SNS) poderá ser resolvida através do diálogo entre os sindicatos e o Governo. A criação de equipas fixas nas urgências em cinco grandes hospitais, anunciada pelo ministro, não resolve o problema a "longo prazo".
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"É uma reforma estrutural. Mas a indisponibilidade para fazer mais horas extraordinárias, para além do previsto na lei, não se resolve com este projeto [criação de equipas dedicadas à urgência]", disse Nelson Pereira, aos jornalistas, esta quarta-feira à tarde. De manhã, o ministro da Saúde anunciou a criação de equipas fixas de urgência em cinco grandes hospitais, nomeadamente os hospitais de São José e Santa Maria (Lisboa), São João e Santo António (Porto) e Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.
Os constrangimentos registados em vários serviços de urgência no país, nos últimos meses, resolvem-se "com o diálogo entre os sindicatos e o Ministério da Saúde", acrescentou o clínico. "Ao longo do país, de Norte a Sul, precisa-se desse diálogo e desse acordo", reforçou. Na próxima sexta-feira, a Federação Nacional dos Médicos e o Sindicato Independente dos Médicos reúnem-se com a tutela. As duas estruturas sindicais vão apresentar uma proposta conjunta. Na terça-feira, o diretor executivo do SNS afirmou que se o acordo não for alcançado, o mês de novembro poderá ser "dramático" na Saúde.
"Problema complexo"
Nelson Pereira disse, no entanto, que a partir do momento em que o projeto das equipas dedicadas à urgência esteja disponível, o hospital de São João "vai querer aproveitar". Neste momento, a unidade hospitalar já dispõe de um modelo semelhante. "O problema do serviço de urgência em Portugal é tão complexo que não se compadece com uma única medida" para a solução, defendeu aos jornalistas.
"Ter a especialidade de medicina de urgência é algo que defendemos", apontou o diretor da urgência do Hospital de São João no Porto. Em dezembro de 2022, a Ordem dos Médicos chumbou a criação desta especialidade, apesar de ser uma discussão em cima da mesa há varios anos. Para o diretor da urgência do São João, é necessário resolver também a grande procura pelos serviços de urgência em Portugal. "Temos de reestruturar para não termos, todos os anos, seis milhões de pessoas a ir aos serviços de urgência", concluiu.